sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Viajar pelo tempo e espaço

 Viajar é uma das melhores maneiras de encontrar consigo mesmo. Eu, minha mulher e nosso filho compacto embarcamos para a Argentina, para sentir desde já como é viajar em família, ou, o que é mais próximo da verdade, para nos despedir das viagens românticas de casal. Poderia ter escrito muito, pois é tudo inspirador, acontece que por lá mesmo li num jornal de poesia uma sabedoria de escritor experiente: a pessoa tem de escolher viver o momento ou escrever; se você escreve, você não vive. Optei por viver a viagem, mas a memória e algumas notas que fiz no quarto de hotel me permitem escrever agora pelo menos um episódio.

 Em Buenos Aires, onde menos esperava, encontrei um amigo e sua mulher, que não os via há mais de oito anos, ambos de minha querida cidade natal, onde passei toda a infância e adolescência. A certeza de que temos uma preciosa amizade pude sentir na conversa, no olho a olho, mesmo após muito tempo sem nos ver, falamos sem patinar, sem a proteção dos expedientes formais, passamos muito além do constrangedor e repetitivo: “nossa! quanto tempo! está tudo bem! meu Deus! tudo bem! já faz o quê? Oito, nove anos que não nos vemos! nossa! quanto tempo! que bom!”

 Eles são pessoas muito especiais, a conversa é diferente, segue outro ritmo, começa assim “Caramba! Que coincidência, confirmei sua amizade no facebook ontem!” Então ele solta sua risada, que beira a uma gargalhada, sempre tão espontânea e tão verdadeira que é impossível não se contagiar e começar a rir junto, é uma benção, poucos são os que podem rir tão alto sem parecer forçado. Logo já estávamos trocando dicas da cidade, nossos telefones no hotel, combinando de assistir a um show de tango.

 O feliz encontro foi um passaporte para um tempo de intensas descobertas, começamos a buscar na memória recordações de nossa amizade. Pelos olhos dele, pude me ver com metade de minha idade atual, as primeiras lições ao volante, o pôster da parede do quarto, as aventuras de jipe por trilhas, as primeiras vezes que saímos para curtir a noite e algumas bebedeiras juvenis. Tudo muito bom!

 Penso como será o esperado encontro com meu filho, os olhos nos olhos, que sensações me provocará, que sentimentos surgirão, que pensamentos terei?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Menino ou Menina?

 Nos dias de hoje, para ser o dono de uma empresa, basta ser proprietário de pouco mais de sua metade, por vezes, com menos da metade já se é o dono da empresa, aliás, já não falamos mais em "dono", mas controlador.

 Nos dias de hoje, muitas doenças não têm cura, já ficamos contentes quando têm tratamento eficaz e podemos conviver bem com o mal.

 Nos dias de hoje, vivemos tempos que requerem flexibilidade, o absoluto é uma utopia, a certeza não repousa no 100%.

 Tenho lido e ouvido o conselho de que não se deve divulgar a gravidez antes de completar o primeiro trimestre da gestação, pois o índice de abortos espontâneos nesse período é elevado. Esse conselho toma por pressuposto que se menos pessoas souberem da gravidez, menor será a dor de eventual perda. Não seguimos esse conselho, já divulgamos nossa gravidez tão logo tivemos os 98% de certeza da concepção.

 Agora, no segundo ultrassom que fizemos, a dotôra informou que não podemos ter a certeza sobre o sexo, mas o processo de formação do bebê já dá seus sinais, com nível de acerto próximo de 75%. A minha mulher, com os poderes mágicos que só grávidas possuem, já está intuindo o sexo do bebê. Ela estava quieta sobre essa intuição, pois não queria confundir a percepção sobre qual será o sexo do bebê com uma preferência por menino ou menina. Para a tranquilidade da futura mamãe, as evidências médicas apontam no mesmo sentido da sua intuição, assim, por conta própria, elevamos o percentual para 85%. Então, qual o sexo? Provavelmente, menino.

 Se por acaso você já me ouviu dizendo que será menino ou que o percentual é de 90%, é porque ocasionalmente levamos em conta a Tabela Chinesa. Já pensamos em buscar os 98% de acerto, com o exame de sangue chamado sexagem fetal, porém, deixamos de lado essa idéia, pois essa incerteza é gostosa, estimula a imaginação e nos envolve mais.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Amizade transcendental

 Encontrei, nesta vida terrena, um amigo de setecentos anos atrás. Ele me reconheceu de pronto, eu já precisei de mais tempo, pois desde sempre serei o mais novo. Comecei a desconfiar de que já o conhecia quando notei que, por mais simples que fosse a frase que eu oferecesse, sobre o clima ou reproduzindo o senso comum, ele captava, com simplicidade e delicadeza, a profundidade e os múltiplos aspectos do que se passa em minha alma.
 Assim eu fui (e continuo) lhe apresentando meus pensamentos, minhas percepções sobre o mundo. Sinto que nunca lhe disse algo genuinamente novo (ele sabe de tudo!) mas, com a lealdade que apenas quem já viveu os tempos medievais poderá ter, minhas repetições nunca o aborreceram, pelo contrário, ressonavam em seu espírito grandioso irradiando luz, música, matéria cósmica, compreendendo, no que para mim era repetição, um ciclo que se aperfeiçoa e imediatamente se põe a girar e girar e girar, por três ou mais dimensões, formando a espiral que expressa a vida, o mistério e algo mais.
 Sobre a minha paternidade, ele disse o seguinte: no ventre da mãe, a criança já sonha com o pai.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Sinais

 Há uma mística em torno da gravidez. É um processo natural, porém, para a nossa civilização e cultura urbanas, nada é mais fantástico do que a natureza. A mística já começa antes da mulher engravidar, as pessoas querem descobrir a gravidez, antes mesmo da própria grávida. Assim mostram que são capazes de ler os sinais que ninguém vê, que são intuitivas e estão conectadas a algo maior do que o mundano.

  Os primeiros sinais que tivemos da gravidez foram os mais óbvios possíveis, ausência de menstruação e teste de gravidez positivo. Depois não se seguiram os enjôos, sonolência, et cetera, ela teve apenas alguns arrotinhos, muito delicados e engraçados, com jeitinho de criança que tomou chopp escondido.

 Curioso é como avultou sua preocupação com a barriga, se eu toco seu ventre sem que ela esteja esperando, imediatamente ela toma um susto (e eu também!), como se alguém tivesse passado a mão na bunda! Já aprendi, o ideal é repousar a mão suavemente, com aviso prévio dos movimentos, sem apertar sequer um pouquinho, de preferência com a mão dela junto.

Então, o cinto de segurança do carro passou a ser uma ameaça, cuja tensão sobre a barriga precisa ser atenuada. Aliás, parece bobagem, mas o simples fato de saber que vou ser pai me tornou mais cauteloso no trânsito e mais exigente com os motoristas infratores. Por vezes sinto um desejo sádico de ser guarda de trânsito, aplicar multas, apreender veículos, recolher habilitações, formas socialmente aceitas de saciar minha gana irracional de punir os delinquentes da norma de trânsito, pois gostaria mesmo de escarrar, arremessar ovos podres, esmagar com para-choque do Jeep 1951. Como se vê, eu também tenho sintomas de grávidos e estou começando e me preocupar se não tenho mais sintomas do que a própria grávida.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Vai você primeiro

Como eu estarei daqui a 7 meses? Algumas vezes me ponho a pensar no futuro, é um bom exercício para avaliar minhas escolhas e imaginar para onde elas podem me levar, por seus múltiplos caminhos, repletos de desvios e retornos, é bom também para reconhecer e relembrar a força do imponderável, da razão inscrita nas estrelas que ainda não sei ler, mas que talvez eu possa ouvir.

 Sábado passado visitamos um casal amigo,  com quem temos muita afinidade, um estilo de vida semelhante, e, principalmente, são estreantes na geração da vida como nós. Eles estão um pouco adiantados, pois a filha já tem mais de um mês de vida, ou seja, estão vivendo o momento que esperamos viver daqui sete meses.

 Acompanhamos esse nascimento desde o namoro dos pais, juntos ficamos felizes com a notícia da gravidez e nos encontramos diversas vezes, para ir ao teatro, ao cinema, ao bar, ao churrasco ou almoço de domingo, sempre, discontraidamente, nos informando sobre os passos da gravidez: os desconfortos do primeiro trimestre, os ultrassons, o sexo do bebê, as opções de nomes, a preparação do quarto, os acessórios do novo lar...

 Sabe quando dois amigos adolescentes estão prestes a entrar numa sala cheia de outros (não tanto) amigos, você não sabe exatamente como se comportar, pois vai entrar num ambiente já formado, então, na ansiedade desse momento, eu costumo ser o cara tímido que diz, vai você na frente, que eu vou te seguindo. 

 Para mim é ótimo ter um grande amigo abrindo o caminho. Confesso que eu estava bem apreensivo com o que iria encontrar na casa após a chegada do bebê. Ficava imaginando que eu seria um intruso, um incômodo que estaria atrapalhando o bom funcionamento do lar e para quem seriam disparados os olhares de "se toca, está na hora de ir embora". Pensei que encontraria a casa em completa desordem, numa correria, todos atabalhoados pelo acúmulo de afazeres e eu lá, à toa, sem fazer nada, sentindo culpa por não poder ajudar.

 Não poderia estar mais equivocado. O que encontrei foi exatamente o oposto do que imaginava.

 Foi um ótimo passeio, o tempo passou rápido, jogamos conversa fora, pudemos tomar cerveja, trocamos algumas dicas, nada de mal, tudo de bom. A casa está em perfeita harmonia, pais felizes e bebê linda. Ainda chego lá.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Ultrassom - Parte 2 - Os humanos

Fiquei com receio de dizer da primeira vez, mas agora que eu e meu filhinho já crescemos um pouco mais, fico tranquilo para dizer: no primeiro ultrassom, o nosso bebê, o embrião, parecia o capitão caverna! Solitário habitante do saco gestacional, senhor absoluto de seu feudo. Como ficava de ponta cabeça, preso na parede do útero, ganhou da mamãe o carinhoso apelido de morceguinho. Era apenas um toquinho de gente, cheio de ternura.

Passadas algumas semanas, o bebê já está muito mais desenvolvido, formaram-se os membros, despregou-se da parede e agora fica passeando dentro do saco gestacional, navegando, passa a mão na boca, sorri para a câmera! Ele sabe que nós estamos vendo. Dá suas voltas, envolve-nos. Troca de canto, encanta-nos.

 Vejam as fotos do primeiro e segundo ultrassom!


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sábado, 11 de dezembro de 2010

Comentários

Ajustei o blogue para permitir comentários anônimos, é possível podem se identificar inserindo seu nome no final do comentário. Algumas pessoas me alertaram (obrigado!) acerca de dificuldades para comentar, então percebi que as configurações exigiam que o usuário tivesse uma identidade, ou seja, era necessário ter um login e senha. Esse procedimento foi abolido, assim fica mais fácil para que vocês comentem livremente. Será necessário apenas digitar umas letras/números de confirmação, para termos certeza de que se trata de uma pessoa que está comentando e não uma máquina espalhando spam pelo blogue. Comentem!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ultrassom - Parte 1 - A ciência

As instruções iniciais assustam um pouco, são importantes e necessárias, mas estudar a possibilidade de seu filho não estar se desenvolvendo corretamente, por causas genéticas, põe-nos a pensar em coisas ruins, nas hipóteses negativas que queremos descartar. Sei que é preciso coragem para encarar a realidade, mas por um momento, ouvindo as deficiências possíveis, cheguei a pensar que era melhor não fazermos exame algum, afinal, se constatada alguma dessas anomalias, poderíamos fazer algo?

Não sei se este pensamento foi um sinal de covardia ou foi uma resistência ao excesso de informação do qual somos vítimas atualmente. O fato é que foi só um pensamento... se você já me viu com cara de abobalhado, pode ter certeza que eu estava bem fundo nos meus pensamentos, mas não desistiríamos da ultrassonografia, pois além de ser uma oportunidade divertida de encontrar seu filho, é um procedimento que não tem contra-indicação e não é considerado invasivo (não pelos médicos, pois para os leigos inserir o equipamento na vagina é baita invasão). Para finalizar as temidas advertências, a dotôra, que é muito comunicativa, já nos acautelou de que ficaria quieta por um tempo, mas não deveríamos interpretarmos seu silêncio como um problema encontrado, apenas ela precisa ficar concentrada para ver todos os sinais.
Caramba! As pessoas já são testadas antes mesmo de nascer, no caso do pré-natal, o teste recai sobre a família toda. 

Ufa! Nosso bebê está dentro das especificações técnicas!
Translucência nucal na medida, ducto venoso pulsando no ritmo, osso nasal presente, placenta nos trinques, colo do útero fechadinho. Filhinho com estatura de 4,74 cm, se alguém quiser presenteá-lo, calçados de 0,9 cm, afinal, hoje completa exatamente 12 semanas.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O outro lado

Hoje uma mulher que é mãe de dois filhos, os quais estão em fotos com molduras de coração por todos os cantos de sua sala, alertou-me que ser pai também tem o lado ruim e que muitas vezes as crianças serão insuportáveis. Achei curioso e fiquei contente que ela tenha visto em mim um pai deslumbrado, para quem é preciso avisar que o mundo não é cor de rosa e que crianças são um saco. Afinal, meu caminho foi justamente o inverso, eu só pensava e enxergava o lado ruim, agora é que estou conhecendo o lado bom.

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sábado, 4 de dezembro de 2010

Sonhos de Mila


Adele Enersen, finlandesa e mãe da Mila, adentrando nos sonhos de sua filha fez diversas fotos, em que ela aparece envolta em objetos caseiros, dispostos com tanta sensibilidade que ganham novo significado e vão além de uma bela foto. Fez com tanto amor e espontaneidade, que as fotos ficaram inigualáveis, tocantes. O amor verdadeiro que emana das fotos despertou a cobiça de empresas, mas ela recusou todas as propostas de uso comercial das imagens. Irá publicar um livro contando os sonhos de sua filha. Por favor, não façam mal uso das imagens, na dúvida, não façam uso algum.

Veja mais

Visite o blogue Mila´s Daydreams

Sobre o nada

O que dizer quando não temos nada a dizer? Passaram-se nove dias sem nenhuma postagem e fiquei preocupado com os meus leitores, afinal, o pórtico do blog promete uma por semana. Eu poderia lamentar que o trabalho requisitou demais minha pessoa, poderia reclamar da empresa que demora em consertar a conexão de rede de meu computador. Fatos verídicos, porém insuficientes. Poderia muito bem ter escrito sobre as chuvas fortes que sucedem ao calor abafado, poderia me aventurar sobre o futebol, um assunto difícil para mim. Acontece que não quis escrever apenas para constar. Não digo que nesses nove dias nada interessante tenha acontecido, pois aconteceram aos montes, apenas eu não pude captá-los como deveria, faltou-me sintonia, não vibrei na mesma frequencia, assim perdi o compasso, subi o tom. Fiquem tranquilos, pois quieto eu guardei na memória preciosos fragmentos de fatos, sensações e pensamentos que ainda me servirão.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Os sons do silêncio

Os pais mais experientes já me alertaram, você está se preparando para ser pai, então durma, durma bastante, pois você não vai dormir mais. Ao mesmo tempo em que ameaçam, já me tranquilizam, pois eles mesmos garantem que a falta de sono não vai me tornar um sujeito mal humorado, muito pelo contrário! Vejo no rosto desses pais que estão falando a pura verdade (desconfio até que há uma pitada de saudades), pois se expressam com tamanha alegria e satisfação, que mais parece trote para receber o novato do clube. Um bullying do bem, pois sem violência física ou moral.


Eu me ocupo desse tema. Prezo bastante o silêncio e a serenidade, não só de noite, mas o dia todo. Busquei e consegui morar numa casa pacata, aconchegante, onde podemos ler livros, assistir filmes, degustar um vinho e queijo, enfim, repousar e distrair sem ser perturbado.


Sinto que vamos perder essa paz, mas vamos ganhar outra. Não estou preocupado com as perdas, estou ansioso pelas transformações, pelas novidades. Uma paz diferente está por vir, mais cheia de vida e, portanto, cheia de desordem e barulhos. Com um pouco de abstração, espero compreender a harmonia do caos e, assim, manter a tranquilidade da alma nessa nova caminhada.


Importante deixar registrado que o lar onde nascerá nosso filho está repleto de amor, sossego e contentamento. Espero que eu possa ler este blogue daqui a vinte ou trinta anos, para me lembrar disso. Antevejo que o desafio será retornar ao silêncio prazeroso que hoje temos, pois o furacão da alegria passará, deixando um vazio, caberá a nós então lembrarmos que esse vazio não é solidão, mas retorno ao silêncio aconchegante do qual brotou nosso filho.

domingo, 21 de novembro de 2010

Este é um blogue de homem!


Domingo, os grávidos acordaram 7h30, sem sono e dispostos, a essa hora, já foi satisfeito o desejo da grávida, já suamos o corpo (ela caminhou, eu corri), assistimos uma partida de tênis na quadra do bairro, jogamos conversa fora.
 Certamente, você já ouviu falar que os pais sentem (ou será que só a mãe poderá sentir?) qual vai ser o nome da criança, hoje, estou pensando que vai se chamar Estela,   


Chega de computador, pois está na hora de cumprir as recomendações médicas. Bom domingo a todos! 

sábado, 20 de novembro de 2010

Simples assim

Nunca sabemos onde vamos encontrar um amigo, como já disse o poeta, amigos nós não fazemos, nós os reconhecemos. Contei sobre minha paternidade a um colega com quem já tinha afinidade pelo trabalho e ele, por e-mail que segue abaixo, compartilhou comigo um momento cotidiano. A história... não vou dizer que é uma história linda e que me emocionei profundamente, mas que isso é verdade, ah!, isso é. Não espero que meus amigos solteiros (ou sem filhos) gostem ou se emocionem, pois até poucos meses atrás eu leria uma história dessas tão rapidamente que não teria tempo para sentimento algum.

Aí vai, simples assim, como navalha na carne.
 

"Marcelo,

Já acessei o seu blog. Pensei que fosse sobre o direito, mas na verdade era sobre algo mais importante... a paternidade. Pelo que vi, você está curtindo cada momento. Isso é um ótimo sinal. Parabéns! Apenas para compartilhar...


Depois da reunião, busquei o meu carro da revisão. Brinde: lanterna ou sacola ecológica? Pensei nas crianças. Lanterna, óbvio. É incrível como uma lanterna de cinco reais pode fazer enorme sucesso com crianças de 2 a 6 anos.
Cheguei no meu prédio. Encontrei o Pedro (nove anos) e o Gabriel (quatro anos), no elevador, chegando da escola. Imediatamente, a lanterna foi disputada e retirada da minha mão. Pensei: escolha certa!

Depois disso, jantei com o Pedro. O Gabriel esperou para jantar com o Artur (sete anos), que chegaria mais tarde da escola, pois era dia de esportes no pós aula.

Após ler introdução, agradecimentos e primeiras páginas do seu livro (e descobrir que tivemos um membro em comum na nossa banca de mestrado), fui interrompido para encher duas bolas de futebol. Depois disso... a Ju (única mulher do lar e representante da minoria esmagadora), chegou.

Tensão: ajudar o Pedro a definir qual amigo seria indicado para cair na mesma classe no próximo ano letivo. A escola permite apenas uma indicação, mas exige que haja reciprocidade entre os indicados. A tarefa é cruel. Se você demorar, seus melhores amigos já terão fechado acordos entre si e o sentimento de exclusão – a meu ver – é inevitável. Além disso, você se vê obrigado a expor aos demais colegas qual é o seu preferido e, talvez, ter a desagradável sensação de ver que a recíproca não é verdadeira, ou que até seria, mas alguém já chegou antes e ele já combinou com o fulano. A criança introvertida poderá se sentir excluída, a comunicativa e com muitos amigos, extremamente dividida. Não há decisão sem dor. Assim,  depois de certo nervosismo, algumas lágrimas, “não vou indicar ninguém” ou  “deixa qualquer um” ele definiu o nome. 

Passada a turbulência e para descontrair, jogamos (os cinco) um jogo de tabuleiro (lince), no nosso esforço recente de resgatar estes hábitos. Pedro foi fazer lição e aí, algumas consultas, população de São Paulo, fundação, Vila de Piratininga, vereadores, nomes etc. Isso que é reciclagem de aprendizado. Gabriel pegou um livro (“Não faça isso Dragão) e li para ele. Dessa vez, o que é raro, ele não falou “de novo” no final, mas gostou mesmo assim. Ato contínuo, apareceu com uma folha de sulfite (rascunho) e pediu: Papai faz um avião? Mas aquele turbo, ok? Um, dois aviões e aí, surgiu o Artur, após ter pintado uma folha com azul e vermelho, disse. Papai faz um pra mim, mas com esse lado pintado para fora, ok? Bem, mais um avião da linha de produção Papai-Embraer e missão cumprida (após alguns voos). Outra folha e o Gabriel pediu. Papai, agora escreve o nome dos meus amigos?  Lorenzo, Julia, Neto, etc. Eu escrevia e ele adivinhava.  Ele ainda não sabe ler, mas já identifica o nome dos coleguinhas, por isso, a cada acerto uma comemoração.

Pipoca, alguém teve a idéia. Ajudei o Artur a abrir o pacotinho e colocar o envelope no microondas. Essa foi fácil. Ficaram assistindo o CQC da Band, que estava gravado no HD da TV (nem só de intelectualidade é feita a casa de juristas!). Quase onze horas ... Pedro e Artur, o primeiro corintiano e o segundo palmeirense, viram um pouco do jogo do Palmeiras, mas depois foram dormir. Pijamas (e fralda, ainda para o de 4 anos) e prontos para o descanso.
 

Não deu para retornar para o seu livro, mas nada como um dia após o outro. Sem dúvidas um dia especial, tarde com os amigos (sem trabalho rotineiro) e em casa, mais cedo e mais descansado, para desfrutar da esposa e FILHOS.
 

Que bom que você comprou os seus tíquetes para embarcar nesse voo. Que dá trabalho, mas é puro prazer. Fica então a frase, que não é minha, mas está afixada na porta da nossa geladeira:
 

“A decisão de ter um filho é muito séria. É decidir ter, para sempre, o coração fora do corpo” (Eric Stone).
 
Acho que você já está percebendo isso, não?
Bem, me delonguei um pouco.
Mas, foi só para compartilhar....
Abração”

Superstição

Tenho algumas superstições, mas não o suficiente para fazer de mim um cara supersticioso. Apenas acho prudente não elogiar muito, pois senão estraga, principalmente quando está acontecendo algo bom e que foge da média. Já faz algum tempo que gostaria de contar como minha esposa está bem, não tem enjoos, não tem vômitos, não tem desejos estranhos, não tem excessos de sono nem de cansaço, muito menos desamaios (esses só vi em novelas). Contrariando às expectativas, o funcionamento do intestino melhorou! Até cheguei a pensar que ela não estava grávida, sandice que durou até o ultrassom. Pois bem, como seguir superstição não é garantia de sucesso, domingo passado minha esposa adoeceu. Nada grave. Seguindo a tendência do consumo brasileiro, os sintomas não vieram com desconto, mas em suaves prestações, cada dia apenas um sintoma: domingo, dor de garganta; segunda, resfriado; terça, corisa e nariz entupido; quarta, dor de cabeça; quinta, voz fanha. Ainda bem que não cobraram as dores no corpo (putz!, não devia ter falado). Hoje ela já está bem melhor, mas com desejo de comer cereal em forma de pequenas rosquinhas. Quem resiste ao pedido meigo de uma grávida que acabou de ficar doente?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Anos completos



Melhor um fio branco na cabeça,
do que dois fios pretos no chão.
Ajustei o subtítulo do blogue.
Próximo ano postamos outra foto para comparações.
Posted by Picasa

sábado, 13 de novembro de 2010

Vida atrai vida

Gente atrai gente. Gosto muito dessas frases pelo quê de humano e profano que elas possuem, além delas lembrarem uma das boas piadas que meu pai me contou. Também não é preciso muito esforço para associá-las ao bom conselho que sempre ouvia de um amigo durante a faculdade, mulher atrai mulher, uma advertência para manter amizades femininas, como meio de conhecer e se aproximar de outras mulheres.

Mas a autora das frases, nesse momento de gravidez, foi a minha mãe. No meu dia a dia, essas palavras diretas e sintéticas vão ganhando um significado especial. Basta dizer vou ser pai ou minha mulher está grávida (esta é mais convincente) e as pessoas imediatamente baixam a guarda e colocam um sorriso no rosto, demonstrando ternura e proximidade, onde antes havia indiferença. O cuidado, o amor, o carinho que um bebê inspira já podemos sentir durante a gravidez.

Ah! estava esquecendo, a piada do meu pai é assim. O vovô chega no quintal de sua casa interiorana, então, vindo do outro lado da cerca de pinheiros, ouve uns barulhos estranhos. Cauteloso e um pouco assustado, pergunta em voz alta, QUEM ESTÁ AÍ, ao que uma voz de homem detrás da cerca responde, GENTE, curioso, o vovô continua, O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO, a mesma voz responde GENTE!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Não acredito em coincidências


As primeiras barbas da minha vida eu laminei passando água e sabonete no rosto. Usava uma chave de barbear que ganhei promocionalmente na porta do vestibular. Depois evolui para os cremes, aplicados com os dedos, massageando o rosto. Algumas semanas atrás tive uma vontade inexplicável de comprar um pincel de barba. Não sabíamos, mas a minha mulher já estava grávida e essas coisas bem típicas de pai já estavam entrando na minha vida.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tabela Chinesa

Temos por perto um grande amigo, na verdade, uma família amiga, com quem sempre podemos contar nos momentos de discontração ou de dificuldade. Eles são pioneiros e especialistas no assunto deste blogue e nos enviaram uma Tabela Chinesa, pela qual é possível descobrir o sexo do bebê, a partir de algumas datas lunares. Vocês acham que eu, um cara racional, amante da ciência, estudioso, metódico, com título de mestre, vou acreditar em tabela chinesa? Claro que sim! Até fiquei ansioso, os chineses são donos de conhecimentos milenares, a tabela já esteve enterrada na tumba da família real chinesa e garante um acerto de 99%. Quem sou eu para discordar? Pela tabela, é homem. Mas tem um probleminha. Precisamos fornecer para a tabela o mês da concepção, mas não temos como saber exatamente quando isso ocorreu (os chineses faziam sexo uma vez por mês?). Assim, há uma considerável margem de erro, que não nos incomoda. Não temos pressa. Provavelmente saberemos o sexo no dia do ultrassom morfológico, que é feito, por padrão, na 12ª semana. Pensamos segundo um acertado clichê: pouca importa o sexo, o importante é vir com saúde.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ver para crer

Eu estaria mais tranquilo se fosse realizar a prova do enem com erros, dessa vez, o frio na barriga pegou minha mulher também. A ultrassonografia requer uma dose de coragem, que só contribui para a emoção do momento. Óbvio que é um procedimento seguro, mas não é nada óbvio ver as entranhas humanas ao vivo! A ansiedade não é pouca e perguntas nada lógicas rondavam minha mente: será que tem um bebê lá dentro mesmo, será que está sendo bem formado, será que tem dois bebês, já imaginou se a dotôra faz cara de dúvida e chama alguém para ver o exame também, ai Jesus...


Já de cara a clínica surpreendeu pela beleza, tem decoração de sala de estar, tranquilizante, tons coloridos suaves, iluminação tênue, melhor que muito quarto de motel, mas é importante você deixar o aspecto sexual de lado, pois bem na sua frente, a ultrassonografista vai pedir para sua mulher tirar a calcinha e abrir as pernas, enquanto ela coloca uma camisinha (ufa! melhor assim) e bastante gel (com esse calor, vai bem um geladinho!) no "equipamento" a ser introduzido... Deixe os detalhes para lá, o importante é o seguinte, o primeiro ultrassom é transvaginal, logo nunca deve ser feito com um ultrassonografista homem, pois o pai não vai suportar a cena e poderá sair machucado.


Então começam as imagens, assumo meu papel de leigo, fico quieto, atento e embarco numa viagem fantástica, com os olhos aguçados para ver meu filho, a primeira parada é no colo do útero, depois ovário direito (de onde saiu o óvulo), ovário esquerdo (que está normal), então ficamos sabendo que não teremos gêmeos. Quando achei que estava vendo o bebê, a dotôra fala "está vendo aquela bolinha ali no fundo... é o saco vitelínico, que está muito bom." A dotôra é nossa simpática guia por um mundo cavernoso, se ela não vai dizendo que está tudo bem, não temos como saber. Sem ela não encontraríamos nosso filho, também, o danado estava de ponta cabeça, o peito arfante, o coração pulsante e, pasmem, podemos ouvi-lo! O som ritmado dos batimentos cardíacos tomou a sala toda, coisa de cinema.

Saí do exame mais pai do que entrei. A paternidade está me tomando aos poucos, quando recebo os parabéns, sinto que estão me transmitindo boas energias, mas não sei exatamente o porquê, vamos descobrir juntos o que isso quer dizer.

É isso, o bebê (para os técnicos, embrião) passou no primeiro exame de sua vida. Ele já tem 1,04 centímetros, vive há sete semanas e quatro dias, seu coração bate a 147 bpm (acho que a mamãe acelerou o bebê) e a data prevista do parto é 21/06/2011 (bom sinal, pois é anivesário do meu irmão).


PS: No texto, não tive como evitar a palavra "filho", que tem um força afetiva e simbólica insubstituível e indispensável nesse primeiro contato. No masculino, sem preconceitos bobos, pois na língua portuguesa o masculino faz o papel do gênero neutro. Dispensei o recurso do parêntesis - meu(minha) filho(a) - pois me parece documento mal escrito, que minha virtude profissional rejeita. Não sabemos o sexo do bebê, ainda não é o momento.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Nova médica

Hoje eu fui ao ginecologista. É parte das primeiras novidades de se tornar pai.  Minha mulher estava bem mais tranquila, é claro, ela já tinha ido ao ginecologista antes, para mim era a primeira vez! Ademais, sentia-me um intruso na relação médico-paciente. Tudo bobagem. A consulta foi ótima e estamos felizes com a nova médica, que se mostrou muito eficiente e solícita. Eu fiquei com o caderno na mão, onde estavam anotadas nossas dúvidas, e a caneta de pé, para ir anotando os conselhos. A "dotôra" recomendou dez minutos de topless todos os dias. Excelente! A ideia é que o sol fortalece a pele e reduz a probabilidade dos mamilos racharem com a amamentação, principalmente porque nossa pele é muito branca. Nossa pele? Na verdade, só importa a pele da mãe, mas estamos juntos nessa e tenho que assumir: sou branco pacas! O primeiro ultrassom está marcado para segunda-feira, até breve!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Toda mulher tem seu mistério

O grande mistério de minha esposa é não ter mistério algum, até hoje fico um pouco intrigado com isso, como poderia haver uma alma feminina tão pura, cristalina, segura e consistente, que pus à prova por diversas formas, com todo meu ceticismo e meus medos, mas que nunca foram suficientes para abalar sua estrutura diamantina. Nos primeiros encontros vivemos um mistério, um estranhamento recíproco,  mas pouco a pouco, para não despertar a rejeição ao que é abrupto, nas doses exatas, ela foi bebendo de mim e eu dela, assim, tornando um ao outro, nos entornamos, nos misturamos, nos casamos, nos conhecemos. Jamais esperaria a notícia da gravidez como surpresa, num jantar romântico, como se ela, sozinha, tivesse feito algo para mim, não, desde o início, está bem claro que estamos juntos nessa, ela não toma para si o privilégio (que para mim não é lá dos melhores privilégios) de carregar a semente e gerar a vida, para me excluir da relação, sequer para se colocar na posição avantajada.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Médica lotada

Tão logo soubemos da gravidez, procuramos a médica que nos atende, mas ela só tinha horário para daqui a 40 dias! Até lá, minha esposa já estaria com 11 semanas. Informamos a gravidez, lembramos a ansiedade e importância do pré-natal, dispusemos a pagar pela consulta. Nada disso mudou, agenda lotada! Há uma ideia comum de que se a médica tem a agenda lotada é uma boa médica, pode até ser, mas já não é boa para mim, simplesmente porque não pode me atender. Parece-me que o consultório informaria melhor se assumisse que não tem condições de atender. Qual é o limite? E se ela dissesse: só temos horário para daqui a três meses? Essa conclusão fica pelo bom senso do paciente, para mim, horário daqui a quarenta dias é o mesmo que sem horário disponível. Procuramos outra médica, vivas à livre concorrência.

domingo, 24 de outubro de 2010

Quem sou eu

Se minha idade permitisse, teria votado no Collor em 1989, época em que eu era fã do globo repórter. Depois pintei (na verdade, uma menina me pintou, fiquei estonteado, demorei a decidir se era algo legal ou gozação, só hoje sei que eram as duas coisas) a minha cara de verde amarelo e, em vez de voltar para a sala de aula no fim do recreio, saí pelas ruas em meio às pessoas gritando "Fora Collor",  foi tão bacana matar aula! Depois virei petista, era a idade e o tempo certo para isso. O meu PT era solidário da minha rebeldia, um PT que sustentava a utopia, fomentava o idealismo. Poderia viver o resto da vida assim, mas o PT ganhou a eleição para o cargo mais alto do país, esse dia foi uma epifania, uma imensa utopia realizada e que vivi de corpo e alma na Avenida Paulista. Também foi um pouco como festa de formatura. Parei de pensar nessas coisas.  Eu disse "pensar", é isso mesmo, pois nunca fui um militante, atuante, no máximo fui amigo deles. Então eu e o meu PT tivemos de encarar a realidade e perdemos a ingenuidade. Era necessário prover o meu próprio sustento, mudei-me para o interior de São Paulo, abandonei o idealismo, passei a trabalhar, trabalhar, trabalhar, pelo que sempre agradeci, pois tenho trabalho honesto e rentável. Assim edifiquei os alicerces do meu lar, conheci a mulher que amo, conquistei-a e fui conquistado, novamente o idealismo e o meu coração puro foram ganhando espaço para respirar, totalmente desvinculado da política e dos jornais, apegado ao que transcende ao tempo e ao espaço, envolto ao que é leve e profundo. Esse cara descobriu que vai ter um filho e resolveu escrever um blog para pensar por escrito.

sábado, 23 de outubro de 2010

A descoberta

Eu li as instruções e disse: tem que esperar cinco minutos, deixa o exame aí e vem pra cá. Ela veio, tinha passado menos de um minuto, mas com um sorriso foi avisando: já tem dois risquinhos lá.


Foi assim, trivialmente, em casa, saindo do banheiro num sábado de tarde que soube da gravidez. Não demos pulos de alegria, não estouramos champanhe, não tocou nenhuma trilha sonora, não explodiram fogos de artifício. Apenas nos abraçamos, por um tempo maior do que o nosso costume, sorridentes, encantados.


Já havia passado mais de dez dias de atraso do ciclo menstrual para que fizéssemos o que é bem simples e fácil: um teste de gravidez de farmácia. Por que esperamos tanto tempo? Não sabemos, talvez porque não temos pressa, talvez porque fosse melhor esperar até sábado, para ter a tranquilidade de curtir a notícia positiva.