domingo, 25 de setembro de 2011

Anjo não tem cor



 Antes do nascimento da Alice eu achava uma bobagem essa coisa de chamar bebês de anjinhos. Hoje conheço a sensação celestial de ficar apreciando a Alice dormir, o efeito é imediato, você pode chegar em casa com fome, após um dia estressante, mas ao ver sua filha dormir é instantaneamente tomado por um estado de graça, que te põe leve e sorrindo.
 Talvez seja por isso que chamam os bebês de anjos, mas também há outro fator de comparação, que é o sexo, explico melhor, assim como os anjos, os bebês não parecem ter sexo, não têm cara de menino ou menina, muito menos de homem ou mulher, são bebês ou anjos, palavras que não tem flexão de gênero. 
   O substantivo de dois gêneros é o recurso linguístico para resolver um problema prático: como é difícil identificar, de uma só olhada, se estamos diante de um recém-nascido menino ou menina, basta dizer: que bebê lindo! Tenho imenso prazer em admirar essa sábia razão inscrita nas raízes da língua portuguesa, que preenche de sentido normas que poderiam parecer artificiais. 
 Acontece que nem todos dominam a língua portuguesa e já aconteceu de pensarem e manifestarem que nosso bebê é um menino. É verdade que tanto eu como a mamãe gostamos de outras cores além do rosa, nossa filha usa amarelo, usa branco, usa cinza, usa verde e também usa o rosa ou roxo. Gostamos dessa diversidade, mas me parece que a maioria das pessoas, falou em menina, só pensam em rosa, rosa, rosa e roxo. Aqui em casa, temos até uma manta azul para a Alice, não foi uma compra deliberada, mas aconteceu que logo nos primeiros dias de vida da Alice gostamos muito de uma manta de microfibra branca, que é macia, quente, confortável, antialérgica e do tamanho ideal. Como estava frio, usávamos muito, então precisávamos de outra igual, mas na loja, desse modelo, só tinha azul. A mamãe não pensou duas vezes para comprar. Não saímos de azul pela rua, porque não queremos dar causa a mal entendidos e só vou postar a foto aqui porque o texto explica a questão.
 Deixo uma dica, nos dias de hoje, se você quer descobrir o sexo de um bebê sem olhar os seus genitais, não vá direto nas cores, por enquanto ainda funciona verificar se tem brinco na orelha ou enfeite no cabelo, somente após essa observar essas ausências você poderá arriscar que é um menino. Se não quer arriscar, pergunte o nome e pronto!


Voltando a metáfora dos bebês anjos, observo ainda uma outra característica essencial que nos leva a ver os bebês como anjinhos: a transcendentalidade. Essas pequenas criaturas, definitivamente, não parecem terem vindo deste mundo. São seres em transição, estão um pouco lá, pouco cá. A tal benção divina por muitos comentado.
 Não são poucas as vezes que Alice me lança um olhar profundo e filosoficamente perturbador, como se ela me perguntasse, com seriedade e interesse na resposta, quem é você? onde estamos? porque eu estou assim? 
 Em alguns momentos,  parece-me que ela está tentando resgatar algo em minha memória, como se já nos  conhecêssemos, mas eu não estou lembrando de sua pessoa. Em outros momentos, Alice me parece indignada com suas limitações, ela quer andar, ela quer falar, ela emite diversos sons, nós respondemos, mas ela percebe que não a entendemos, ela sente que não consegue andar, então fala mais alto e agita braços e pernas, o que me parece ser uma revolta por uma nova situação que lhe é estranha.
 Como pai, quero mesmo é tornar a estada de Alice neste mundo o mais doce e feliz possível, sem me esquecer de que para isso serão necessárias algumas duras medidas educativas, que a tornem uma pessoa livre, consciente e independente. 
 Vejam só, hoje mesmo sonhei que a Alice já estava falando, era um caso raro no mundo todo, um bebê de três meses que já dizia frases com três palavras. No sonho, eu e a mamãe estávamos espantados e encantados, combinamos de não contar nada para ninguém, porque não queríamos a imprensa violando nossa privacidade.  
   

sábado, 17 de setembro de 2011

Bebezinho, bebezão

 Bebê é uma palavra que se tornou insuficiente hoje, que recebemos a visita da Helena, com seus oito meses de idade. Lembram-se daquele casal amigo que segue sete meses na nossa frente, abrindo o caminho, puxando a fileira? Pois então, eles vieram conhecer a Alice e tivemos um encontro gostoso,  descontraído e interessante como devem ser os encontros entre amigos. Ter filhos pequenos em nada reduz esse prazer, pelo contrário, enriquece.
 Tanto eles, quanto nós, ficamos impressionados, um com o bebê do outro. Eles achando a Alice tão pequenininha e fofinha, com a impressão de que foi há muito tempo atrás que a filha deles tinha esse tamanho. Nós achando a Helena tão grande e comunicativa, que pareceu muito distante o dia em que Alice ficará desse tamanho.
  Olha que nós estávamos achando a Alice um bebê já pesado e grande, pois tínhamos como referência a própria Alice quando nasceu, mas após essa visita, também passamos a vê-la como pequenininha e fofinha. E, como se a reciprocidade das impressões não bastasse, eles também passaram a achar a Helena uma adulta, tão grande comparada com a Alice.
 Helena é movida a vitamina S, tem habilidades incríveis, como virar a cabeça com rapidez para onde quer, olhar as pessoas nos olhos, usar as mãos para indicar o caminho onde quer ir, além de se movimentar pelo chão. Tão logo viu a Alice, fixou o seu olhar no nosso bebê, numa atração que só a natureza poderá explicar, com as mãos estendidas e o corpo inclinado em direção à sua nova amiga. Talvez seja essa a ideia, quanto mais velhos ficamos, mas dificuldade temos para fazer amizades, ou, pelo reverso, quanto mais novos somos, mais rapidamente fazemos amizades.
 
 São tantas diferenças entre um bebê de pouco mais de um mês e um bebê de oito meses, que até me pareceu necessário uma palavra diferente para cada estágio desse desenvolvimento. Ou melhor, é preciso entender que o bebê é um ser em franco desenvolvimento e crescimento. Em nenhum outro período da nossa vida vamos crescer e nos desenvolver tanto e tão rápido desse jeito. Quinze minutos na vida de um bebê equivale a uns dois meses na vida de um adulto.
 Agradeço pelo presente, foi muito bom encontrar essas pessoas amigas, dessa vez, ficou a seguinte lição, para que o tempo passe rápido, o segredo é não olhar para o relógio ou calendário, é preciso curtir cada momento.
* o texto estava esboçado já algum tempo atrás, no papel e caneta mesmo, mas só agora editei-o neste blogue.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um dia de pai



Se você me ligasse para conversar, provavelmente ouviria um trecho da história cuja versão completa conto aqui. 7 de setembro, feriado nacional, caiu numa quarta-feira, não é um feriadão, mais parece um dia de trabalho em que não trabalhamos. Para aproveitarmos, começamos ontem, seguindo a ousada sugestão da mamãe, locamos um filme para assistir em casa, depois das 20h, horário em que geralmente dormimos, para nós, dormir 22h30 é o equivalente a madrugar, mas estamos dispostos a essa aventura. Tudo funcionou como planejado, mamada para Alice 19h30, pouco depois ela já estava dormindo. Então vimos, sem interrupções, “Biutiful”, que foi uma escolha minha. Já imaginava que seria um filme pesado, mas para quem viu “Leonera” na gravidez, sem traumas, considerei que não teríamos problemas, como realmente não tivémos, apenas ficamos comovidos e tristes. Em verdade, esperava encontrar no filme um pouco mais da beleza, ainda que em meio das misérias humanas, que a transformam na tal “belesa”, que lhe serve de título. Até há beleza no filme, mas ela só serviu para nos transmitir mais tristeza e a amargura, que ao final, só nos restou dormir, então fomos direto para a cama, já que qualquer vinte minutos é tempo precioso quando se tem um bebê em casa. Mamãe adormeceu rapidamente, mas eu não parava de pensar e pensar, não no filme, mas em questões profissionais que me deixaram ansioso e me tiraram da cama. Fui para a internet e só me desliguei dela 1h30 da manhã, ainda esperto, pois o computador, muito diferentemente de livros, não me encaminha para o sono. Então bastou ler dez minutos da Teoria Pura do Direito e pronto, finalmente passei para o lado de lá da vigília. Alice, conforme sua rotina, só acordou 4h40, para mamar, eu levanto também, sem o menor mau humor, para acalentar minha filha, enquanto a mamãe toma água e pega a almofada, então coloco o bebê no peito dela, anoto o horário da mamada no caderno, deixo um relógio para mamãe acompanhar o tempo, verifico se ela tem um paninho babadouro por perto, preparo a manta que irá embalar nossa filha novamente, pergunto se a mamãe quer mais um copo de água ou outra coisa. Tudo isso não dura mais que dois minutos e volto a dormir, surpreso comigo mesmo, por conseguir acordar bem humorado, mesmo estando com o sono atrasado. Na primeira semana, acordar para essas tarefas me deixava atônito e mal-humorado, hoje, pelo contrário, penso até que terei saudades. Aliás, é pelo receio dessas possíveis saudades, ou, pior ainda, pelo receio de esquecer disso tudo, que vou deixando esses escritos por aqui. Alice, também seguindo seu costume, acordou 7h30, a mamãe foi vê-la e, dessa vez, extraordinariamente, muito fora do costume, o bebê vomitou uma grande quantidade de queijinho, o que assustou a mamãe, foram dois volumosos jatos. Tive que rapidamente levantar, pegar o bebê todo melecado e acalmar a mamãe, para que ela não passasse seu susto para o bebê, que estava melecado, mas estava tranquilo. Novamente, fiquei surpreso comigo, pois apesar de não ter ido dormir 20h, como de costume, estava com disposição para começar o dia e a nossa rotina que agora conto para vocês. Tirando algumas variações, como hoje, que tivemos que trocar os lençóis e o protetor do berço, a Alice acorda por volta das 7h, mama, o que a deixa relaxada, então descemos eu e mamãe para o nosso café da manhã, enquanto o bebê fica na sua cadeira de balanço, ela dá uma choradinha vez em quando, cada dia menos. Findo o café, damos o banho, o que é feito no quarto. Cabe a mim encher a banheira com água quente do chuveiro e carregá-la até o quarto. Não temos termômetro, às vezes, precisamos acertar a temperatura com uma panela de água fria. Penso que essas variações da temperatura da água preparam nossa filha para as surpresas do mundo. Penso que sou muito bobo ou exagerado por ter esses pensamentos. A mamãe é quem dá o banho, eu pego a Alice saindo da banheira com a toalha, enxugo, passo pomada, coloco a fralda e a roupa que a mamãe escolheu. Só então eu vou tomar banho e saio para trabalhar, às vezes, para acelerar, já tomo banho antes do café, enquanto a Alice está na primeira mamada do dia. No começo, mamãe também tomava banho de manhã, mas agora, para agilizar, está tomando banho de noite. Está tudo orquestrado, com espaços para improvisos. Depois do banho, Alice dá outra mamada, fica brincando por volta de 40 minutos e dorme bastante, umas duas horas, tranquilas, tem dia que dorme até mais que isso. Temos bastante segurança nesse sono da manhã. Por vezes, como neste feriado, passo a manhã com a Alice, para que a mamãe possa sair de casa, espairecer, o que faz indo ao supermercado. Como hoje é feriado, não tem empregada para fazer almoço em casa, nos viramos com uma industrial lasanha congelada e alface que já estava lavada na geladeira. Alice ficou bem durante o nosso almoço, em sua cadeirinha, mas não é sempre assim, por vezes, quer colo, quer passear, chorar um pouco. Quando ela fica muito inquieta e insatisfeita, penso que a vida pode ser mesmo entediante, principalmente quando não conseguimos nos distrair por nossos próprios meios. Lembro que precisamos cultivar a independência dessa menina e isso não parece muito fácil. Para a tarde, planejamos um passeio no parque. Gostamos de sair logo após a mamada, para aproveitar melhor os intervalos entre as mamadas, mas dessa vez foi preciso trocar a fralda, com cuidado, pois a barriga cheia proporciona vômitos. Já imaginou alguém levantando suas pernas, comprimindo e erguendo o seu abdômen? Vomitar era o que um adulto faria de mais delicado. 
No carro, eu aperto o cinto de segurança cinco pontos da Alice, pois a mamãe tem um pouco de dó, acha que é incômodo, muito justo, aliás, ela gosta de tudo bem largo para o bebê, diz que é mais confortável, dessa vez, mamãe vai dirigindo, pois quer se acostumar com essa tarefa, o que foi bom para mim, que recebi o telefonema de um amigo de faculdade, que também é papai, conversamos sobre trabalho e filhos, gosto muito de ouvir meus amigos. Chegando no parque, uma pequena dificuldade para estacionar o carro, minha esposa ficou por lá e eu fui procurar uma vaga para estacionar, nem demorou muito, voltei para o parque e tive uma antiga fobia, que me acompanha desde a infância. O parque é grande, estava cheio de gente e crianças, passo o olho ao redor, não encontro minha esposa e filha, fico pensando e sentindo que estou perdido, que elas se perderam, que não vou encontrá-las mais, bate um pequeno desespero que dura poucos minutos, pois já aprendi a não deixá-lo crescer. Calmo, encontro com alegria o carrinho verde kiwi da Alice e a mamãe atenciosa, um beijinho e vamos passear entre as árvores e flores, muitas crianças correndo, brinquedos de diversos tipos, roda de crianças ouvindo dois palhaços, aviões de exibição, paramos para algumas fotos. É tudo muito gostoso, Alice nos faz resgatar alguns encantos da infância, mas penso que vou enjoar disso algum dia, torço para que esse dia demore a chegar. Por enquanto, Alice cansa do passeio antes de nós, começa a resmungar, só sossega no colo, vamos até o carro, Alice mama novamente e dorme logo em seguida, então passamos na locadora para devolver o filme e na padaria, para comprar um café que acabou se tornando nossa janta, mesmo. Um sujeito chato e folgado quer dinheiro para olhar o carro, mesmo num dia pacato como este, acontece que eu fiquei no carro vigiando a Alice, enquanto mamãe comprou “jamón”, o que nos recorda o prazer das viagens mundo afora. Já em casa, um dia feliz como este, ainda tive tempo para escrever este texto, mas sem muito tempo para reler. Já é quase 19h30, vamos trocar a fralda, dar mamá com luz apagada, colocá-la sentadinha para arrotar, envolvê-la em sua manta, aconchegá-la no colo e descansá-la no berço dormindo com seu rosto angelical. Pronto! 20h30, vou dormir rapidamente que amanhã, já pela madrugada, tem mais.