quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Toda mulher tem seu mistério

O grande mistério de minha esposa é não ter mistério algum, até hoje fico um pouco intrigado com isso, como poderia haver uma alma feminina tão pura, cristalina, segura e consistente, que pus à prova por diversas formas, com todo meu ceticismo e meus medos, mas que nunca foram suficientes para abalar sua estrutura diamantina. Nos primeiros encontros vivemos um mistério, um estranhamento recíproco,  mas pouco a pouco, para não despertar a rejeição ao que é abrupto, nas doses exatas, ela foi bebendo de mim e eu dela, assim, tornando um ao outro, nos entornamos, nos misturamos, nos casamos, nos conhecemos. Jamais esperaria a notícia da gravidez como surpresa, num jantar romântico, como se ela, sozinha, tivesse feito algo para mim, não, desde o início, está bem claro que estamos juntos nessa, ela não toma para si o privilégio (que para mim não é lá dos melhores privilégios) de carregar a semente e gerar a vida, para me excluir da relação, sequer para se colocar na posição avantajada.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Médica lotada

Tão logo soubemos da gravidez, procuramos a médica que nos atende, mas ela só tinha horário para daqui a 40 dias! Até lá, minha esposa já estaria com 11 semanas. Informamos a gravidez, lembramos a ansiedade e importância do pré-natal, dispusemos a pagar pela consulta. Nada disso mudou, agenda lotada! Há uma ideia comum de que se a médica tem a agenda lotada é uma boa médica, pode até ser, mas já não é boa para mim, simplesmente porque não pode me atender. Parece-me que o consultório informaria melhor se assumisse que não tem condições de atender. Qual é o limite? E se ela dissesse: só temos horário para daqui a três meses? Essa conclusão fica pelo bom senso do paciente, para mim, horário daqui a quarenta dias é o mesmo que sem horário disponível. Procuramos outra médica, vivas à livre concorrência.

domingo, 24 de outubro de 2010

Quem sou eu

Se minha idade permitisse, teria votado no Collor em 1989, época em que eu era fã do globo repórter. Depois pintei (na verdade, uma menina me pintou, fiquei estonteado, demorei a decidir se era algo legal ou gozação, só hoje sei que eram as duas coisas) a minha cara de verde amarelo e, em vez de voltar para a sala de aula no fim do recreio, saí pelas ruas em meio às pessoas gritando "Fora Collor",  foi tão bacana matar aula! Depois virei petista, era a idade e o tempo certo para isso. O meu PT era solidário da minha rebeldia, um PT que sustentava a utopia, fomentava o idealismo. Poderia viver o resto da vida assim, mas o PT ganhou a eleição para o cargo mais alto do país, esse dia foi uma epifania, uma imensa utopia realizada e que vivi de corpo e alma na Avenida Paulista. Também foi um pouco como festa de formatura. Parei de pensar nessas coisas.  Eu disse "pensar", é isso mesmo, pois nunca fui um militante, atuante, no máximo fui amigo deles. Então eu e o meu PT tivemos de encarar a realidade e perdemos a ingenuidade. Era necessário prover o meu próprio sustento, mudei-me para o interior de São Paulo, abandonei o idealismo, passei a trabalhar, trabalhar, trabalhar, pelo que sempre agradeci, pois tenho trabalho honesto e rentável. Assim edifiquei os alicerces do meu lar, conheci a mulher que amo, conquistei-a e fui conquistado, novamente o idealismo e o meu coração puro foram ganhando espaço para respirar, totalmente desvinculado da política e dos jornais, apegado ao que transcende ao tempo e ao espaço, envolto ao que é leve e profundo. Esse cara descobriu que vai ter um filho e resolveu escrever um blog para pensar por escrito.

sábado, 23 de outubro de 2010

A descoberta

Eu li as instruções e disse: tem que esperar cinco minutos, deixa o exame aí e vem pra cá. Ela veio, tinha passado menos de um minuto, mas com um sorriso foi avisando: já tem dois risquinhos lá.


Foi assim, trivialmente, em casa, saindo do banheiro num sábado de tarde que soube da gravidez. Não demos pulos de alegria, não estouramos champanhe, não tocou nenhuma trilha sonora, não explodiram fogos de artifício. Apenas nos abraçamos, por um tempo maior do que o nosso costume, sorridentes, encantados.


Já havia passado mais de dez dias de atraso do ciclo menstrual para que fizéssemos o que é bem simples e fácil: um teste de gravidez de farmácia. Por que esperamos tanto tempo? Não sabemos, talvez porque não temos pressa, talvez porque fosse melhor esperar até sábado, para ter a tranquilidade de curtir a notícia positiva.