sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Viajar pelo tempo e espaço

 Viajar é uma das melhores maneiras de encontrar consigo mesmo. Eu, minha mulher e nosso filho compacto embarcamos para a Argentina, para sentir desde já como é viajar em família, ou, o que é mais próximo da verdade, para nos despedir das viagens românticas de casal. Poderia ter escrito muito, pois é tudo inspirador, acontece que por lá mesmo li num jornal de poesia uma sabedoria de escritor experiente: a pessoa tem de escolher viver o momento ou escrever; se você escreve, você não vive. Optei por viver a viagem, mas a memória e algumas notas que fiz no quarto de hotel me permitem escrever agora pelo menos um episódio.

 Em Buenos Aires, onde menos esperava, encontrei um amigo e sua mulher, que não os via há mais de oito anos, ambos de minha querida cidade natal, onde passei toda a infância e adolescência. A certeza de que temos uma preciosa amizade pude sentir na conversa, no olho a olho, mesmo após muito tempo sem nos ver, falamos sem patinar, sem a proteção dos expedientes formais, passamos muito além do constrangedor e repetitivo: “nossa! quanto tempo! está tudo bem! meu Deus! tudo bem! já faz o quê? Oito, nove anos que não nos vemos! nossa! quanto tempo! que bom!”

 Eles são pessoas muito especiais, a conversa é diferente, segue outro ritmo, começa assim “Caramba! Que coincidência, confirmei sua amizade no facebook ontem!” Então ele solta sua risada, que beira a uma gargalhada, sempre tão espontânea e tão verdadeira que é impossível não se contagiar e começar a rir junto, é uma benção, poucos são os que podem rir tão alto sem parecer forçado. Logo já estávamos trocando dicas da cidade, nossos telefones no hotel, combinando de assistir a um show de tango.

 O feliz encontro foi um passaporte para um tempo de intensas descobertas, começamos a buscar na memória recordações de nossa amizade. Pelos olhos dele, pude me ver com metade de minha idade atual, as primeiras lições ao volante, o pôster da parede do quarto, as aventuras de jipe por trilhas, as primeiras vezes que saímos para curtir a noite e algumas bebedeiras juvenis. Tudo muito bom!

 Penso como será o esperado encontro com meu filho, os olhos nos olhos, que sensações me provocará, que sentimentos surgirão, que pensamentos terei?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Menino ou Menina?

 Nos dias de hoje, para ser o dono de uma empresa, basta ser proprietário de pouco mais de sua metade, por vezes, com menos da metade já se é o dono da empresa, aliás, já não falamos mais em "dono", mas controlador.

 Nos dias de hoje, muitas doenças não têm cura, já ficamos contentes quando têm tratamento eficaz e podemos conviver bem com o mal.

 Nos dias de hoje, vivemos tempos que requerem flexibilidade, o absoluto é uma utopia, a certeza não repousa no 100%.

 Tenho lido e ouvido o conselho de que não se deve divulgar a gravidez antes de completar o primeiro trimestre da gestação, pois o índice de abortos espontâneos nesse período é elevado. Esse conselho toma por pressuposto que se menos pessoas souberem da gravidez, menor será a dor de eventual perda. Não seguimos esse conselho, já divulgamos nossa gravidez tão logo tivemos os 98% de certeza da concepção.

 Agora, no segundo ultrassom que fizemos, a dotôra informou que não podemos ter a certeza sobre o sexo, mas o processo de formação do bebê já dá seus sinais, com nível de acerto próximo de 75%. A minha mulher, com os poderes mágicos que só grávidas possuem, já está intuindo o sexo do bebê. Ela estava quieta sobre essa intuição, pois não queria confundir a percepção sobre qual será o sexo do bebê com uma preferência por menino ou menina. Para a tranquilidade da futura mamãe, as evidências médicas apontam no mesmo sentido da sua intuição, assim, por conta própria, elevamos o percentual para 85%. Então, qual o sexo? Provavelmente, menino.

 Se por acaso você já me ouviu dizendo que será menino ou que o percentual é de 90%, é porque ocasionalmente levamos em conta a Tabela Chinesa. Já pensamos em buscar os 98% de acerto, com o exame de sangue chamado sexagem fetal, porém, deixamos de lado essa idéia, pois essa incerteza é gostosa, estimula a imaginação e nos envolve mais.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Amizade transcendental

 Encontrei, nesta vida terrena, um amigo de setecentos anos atrás. Ele me reconheceu de pronto, eu já precisei de mais tempo, pois desde sempre serei o mais novo. Comecei a desconfiar de que já o conhecia quando notei que, por mais simples que fosse a frase que eu oferecesse, sobre o clima ou reproduzindo o senso comum, ele captava, com simplicidade e delicadeza, a profundidade e os múltiplos aspectos do que se passa em minha alma.
 Assim eu fui (e continuo) lhe apresentando meus pensamentos, minhas percepções sobre o mundo. Sinto que nunca lhe disse algo genuinamente novo (ele sabe de tudo!) mas, com a lealdade que apenas quem já viveu os tempos medievais poderá ter, minhas repetições nunca o aborreceram, pelo contrário, ressonavam em seu espírito grandioso irradiando luz, música, matéria cósmica, compreendendo, no que para mim era repetição, um ciclo que se aperfeiçoa e imediatamente se põe a girar e girar e girar, por três ou mais dimensões, formando a espiral que expressa a vida, o mistério e algo mais.
 Sobre a minha paternidade, ele disse o seguinte: no ventre da mãe, a criança já sonha com o pai.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Sinais

 Há uma mística em torno da gravidez. É um processo natural, porém, para a nossa civilização e cultura urbanas, nada é mais fantástico do que a natureza. A mística já começa antes da mulher engravidar, as pessoas querem descobrir a gravidez, antes mesmo da própria grávida. Assim mostram que são capazes de ler os sinais que ninguém vê, que são intuitivas e estão conectadas a algo maior do que o mundano.

  Os primeiros sinais que tivemos da gravidez foram os mais óbvios possíveis, ausência de menstruação e teste de gravidez positivo. Depois não se seguiram os enjôos, sonolência, et cetera, ela teve apenas alguns arrotinhos, muito delicados e engraçados, com jeitinho de criança que tomou chopp escondido.

 Curioso é como avultou sua preocupação com a barriga, se eu toco seu ventre sem que ela esteja esperando, imediatamente ela toma um susto (e eu também!), como se alguém tivesse passado a mão na bunda! Já aprendi, o ideal é repousar a mão suavemente, com aviso prévio dos movimentos, sem apertar sequer um pouquinho, de preferência com a mão dela junto.

Então, o cinto de segurança do carro passou a ser uma ameaça, cuja tensão sobre a barriga precisa ser atenuada. Aliás, parece bobagem, mas o simples fato de saber que vou ser pai me tornou mais cauteloso no trânsito e mais exigente com os motoristas infratores. Por vezes sinto um desejo sádico de ser guarda de trânsito, aplicar multas, apreender veículos, recolher habilitações, formas socialmente aceitas de saciar minha gana irracional de punir os delinquentes da norma de trânsito, pois gostaria mesmo de escarrar, arremessar ovos podres, esmagar com para-choque do Jeep 1951. Como se vê, eu também tenho sintomas de grávidos e estou começando e me preocupar se não tenho mais sintomas do que a própria grávida.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Vai você primeiro

Como eu estarei daqui a 7 meses? Algumas vezes me ponho a pensar no futuro, é um bom exercício para avaliar minhas escolhas e imaginar para onde elas podem me levar, por seus múltiplos caminhos, repletos de desvios e retornos, é bom também para reconhecer e relembrar a força do imponderável, da razão inscrita nas estrelas que ainda não sei ler, mas que talvez eu possa ouvir.

 Sábado passado visitamos um casal amigo,  com quem temos muita afinidade, um estilo de vida semelhante, e, principalmente, são estreantes na geração da vida como nós. Eles estão um pouco adiantados, pois a filha já tem mais de um mês de vida, ou seja, estão vivendo o momento que esperamos viver daqui sete meses.

 Acompanhamos esse nascimento desde o namoro dos pais, juntos ficamos felizes com a notícia da gravidez e nos encontramos diversas vezes, para ir ao teatro, ao cinema, ao bar, ao churrasco ou almoço de domingo, sempre, discontraidamente, nos informando sobre os passos da gravidez: os desconfortos do primeiro trimestre, os ultrassons, o sexo do bebê, as opções de nomes, a preparação do quarto, os acessórios do novo lar...

 Sabe quando dois amigos adolescentes estão prestes a entrar numa sala cheia de outros (não tanto) amigos, você não sabe exatamente como se comportar, pois vai entrar num ambiente já formado, então, na ansiedade desse momento, eu costumo ser o cara tímido que diz, vai você na frente, que eu vou te seguindo. 

 Para mim é ótimo ter um grande amigo abrindo o caminho. Confesso que eu estava bem apreensivo com o que iria encontrar na casa após a chegada do bebê. Ficava imaginando que eu seria um intruso, um incômodo que estaria atrapalhando o bom funcionamento do lar e para quem seriam disparados os olhares de "se toca, está na hora de ir embora". Pensei que encontraria a casa em completa desordem, numa correria, todos atabalhoados pelo acúmulo de afazeres e eu lá, à toa, sem fazer nada, sentindo culpa por não poder ajudar.

 Não poderia estar mais equivocado. O que encontrei foi exatamente o oposto do que imaginava.

 Foi um ótimo passeio, o tempo passou rápido, jogamos conversa fora, pudemos tomar cerveja, trocamos algumas dicas, nada de mal, tudo de bom. A casa está em perfeita harmonia, pais felizes e bebê linda. Ainda chego lá.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Ultrassom - Parte 2 - Os humanos

Fiquei com receio de dizer da primeira vez, mas agora que eu e meu filhinho já crescemos um pouco mais, fico tranquilo para dizer: no primeiro ultrassom, o nosso bebê, o embrião, parecia o capitão caverna! Solitário habitante do saco gestacional, senhor absoluto de seu feudo. Como ficava de ponta cabeça, preso na parede do útero, ganhou da mamãe o carinhoso apelido de morceguinho. Era apenas um toquinho de gente, cheio de ternura.

Passadas algumas semanas, o bebê já está muito mais desenvolvido, formaram-se os membros, despregou-se da parede e agora fica passeando dentro do saco gestacional, navegando, passa a mão na boca, sorri para a câmera! Ele sabe que nós estamos vendo. Dá suas voltas, envolve-nos. Troca de canto, encanta-nos.

 Vejam as fotos do primeiro e segundo ultrassom!


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sábado, 11 de dezembro de 2010

Comentários

Ajustei o blogue para permitir comentários anônimos, é possível podem se identificar inserindo seu nome no final do comentário. Algumas pessoas me alertaram (obrigado!) acerca de dificuldades para comentar, então percebi que as configurações exigiam que o usuário tivesse uma identidade, ou seja, era necessário ter um login e senha. Esse procedimento foi abolido, assim fica mais fácil para que vocês comentem livremente. Será necessário apenas digitar umas letras/números de confirmação, para termos certeza de que se trata de uma pessoa que está comentando e não uma máquina espalhando spam pelo blogue. Comentem!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ultrassom - Parte 1 - A ciência

As instruções iniciais assustam um pouco, são importantes e necessárias, mas estudar a possibilidade de seu filho não estar se desenvolvendo corretamente, por causas genéticas, põe-nos a pensar em coisas ruins, nas hipóteses negativas que queremos descartar. Sei que é preciso coragem para encarar a realidade, mas por um momento, ouvindo as deficiências possíveis, cheguei a pensar que era melhor não fazermos exame algum, afinal, se constatada alguma dessas anomalias, poderíamos fazer algo?

Não sei se este pensamento foi um sinal de covardia ou foi uma resistência ao excesso de informação do qual somos vítimas atualmente. O fato é que foi só um pensamento... se você já me viu com cara de abobalhado, pode ter certeza que eu estava bem fundo nos meus pensamentos, mas não desistiríamos da ultrassonografia, pois além de ser uma oportunidade divertida de encontrar seu filho, é um procedimento que não tem contra-indicação e não é considerado invasivo (não pelos médicos, pois para os leigos inserir o equipamento na vagina é baita invasão). Para finalizar as temidas advertências, a dotôra, que é muito comunicativa, já nos acautelou de que ficaria quieta por um tempo, mas não deveríamos interpretarmos seu silêncio como um problema encontrado, apenas ela precisa ficar concentrada para ver todos os sinais.
Caramba! As pessoas já são testadas antes mesmo de nascer, no caso do pré-natal, o teste recai sobre a família toda. 

Ufa! Nosso bebê está dentro das especificações técnicas!
Translucência nucal na medida, ducto venoso pulsando no ritmo, osso nasal presente, placenta nos trinques, colo do útero fechadinho. Filhinho com estatura de 4,74 cm, se alguém quiser presenteá-lo, calçados de 0,9 cm, afinal, hoje completa exatamente 12 semanas.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O outro lado

Hoje uma mulher que é mãe de dois filhos, os quais estão em fotos com molduras de coração por todos os cantos de sua sala, alertou-me que ser pai também tem o lado ruim e que muitas vezes as crianças serão insuportáveis. Achei curioso e fiquei contente que ela tenha visto em mim um pai deslumbrado, para quem é preciso avisar que o mundo não é cor de rosa e que crianças são um saco. Afinal, meu caminho foi justamente o inverso, eu só pensava e enxergava o lado ruim, agora é que estou conhecendo o lado bom.

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sábado, 4 de dezembro de 2010

Sonhos de Mila


Adele Enersen, finlandesa e mãe da Mila, adentrando nos sonhos de sua filha fez diversas fotos, em que ela aparece envolta em objetos caseiros, dispostos com tanta sensibilidade que ganham novo significado e vão além de uma bela foto. Fez com tanto amor e espontaneidade, que as fotos ficaram inigualáveis, tocantes. O amor verdadeiro que emana das fotos despertou a cobiça de empresas, mas ela recusou todas as propostas de uso comercial das imagens. Irá publicar um livro contando os sonhos de sua filha. Por favor, não façam mal uso das imagens, na dúvida, não façam uso algum.

Veja mais

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Sobre o nada

O que dizer quando não temos nada a dizer? Passaram-se nove dias sem nenhuma postagem e fiquei preocupado com os meus leitores, afinal, o pórtico do blog promete uma por semana. Eu poderia lamentar que o trabalho requisitou demais minha pessoa, poderia reclamar da empresa que demora em consertar a conexão de rede de meu computador. Fatos verídicos, porém insuficientes. Poderia muito bem ter escrito sobre as chuvas fortes que sucedem ao calor abafado, poderia me aventurar sobre o futebol, um assunto difícil para mim. Acontece que não quis escrever apenas para constar. Não digo que nesses nove dias nada interessante tenha acontecido, pois aconteceram aos montes, apenas eu não pude captá-los como deveria, faltou-me sintonia, não vibrei na mesma frequencia, assim perdi o compasso, subi o tom. Fiquem tranquilos, pois quieto eu guardei na memória preciosos fragmentos de fatos, sensações e pensamentos que ainda me servirão.