domingo, 19 de dezembro de 2010

Sinais

 Há uma mística em torno da gravidez. É um processo natural, porém, para a nossa civilização e cultura urbanas, nada é mais fantástico do que a natureza. A mística já começa antes da mulher engravidar, as pessoas querem descobrir a gravidez, antes mesmo da própria grávida. Assim mostram que são capazes de ler os sinais que ninguém vê, que são intuitivas e estão conectadas a algo maior do que o mundano.

  Os primeiros sinais que tivemos da gravidez foram os mais óbvios possíveis, ausência de menstruação e teste de gravidez positivo. Depois não se seguiram os enjôos, sonolência, et cetera, ela teve apenas alguns arrotinhos, muito delicados e engraçados, com jeitinho de criança que tomou chopp escondido.

 Curioso é como avultou sua preocupação com a barriga, se eu toco seu ventre sem que ela esteja esperando, imediatamente ela toma um susto (e eu também!), como se alguém tivesse passado a mão na bunda! Já aprendi, o ideal é repousar a mão suavemente, com aviso prévio dos movimentos, sem apertar sequer um pouquinho, de preferência com a mão dela junto.

Então, o cinto de segurança do carro passou a ser uma ameaça, cuja tensão sobre a barriga precisa ser atenuada. Aliás, parece bobagem, mas o simples fato de saber que vou ser pai me tornou mais cauteloso no trânsito e mais exigente com os motoristas infratores. Por vezes sinto um desejo sádico de ser guarda de trânsito, aplicar multas, apreender veículos, recolher habilitações, formas socialmente aceitas de saciar minha gana irracional de punir os delinquentes da norma de trânsito, pois gostaria mesmo de escarrar, arremessar ovos podres, esmagar com para-choque do Jeep 1951. Como se vê, eu também tenho sintomas de grávidos e estou começando e me preocupar se não tenho mais sintomas do que a própria grávida.

Um comentário:

  1. Blog, internet, tudo isso traz uma impressão de imediatismo, de tempo real, mas por aqui nos contentamos com a noção de atualidade. Vocês já devem ter percebido que este blogue não é polaroid, salvo algumas ocasiões especiais, as postagens trazem fatos ocorridos na semana, que ainda não perderam a atualidade, a novidade. Para os modernistas brasileiros do início do século XX, acredito que ler uma revista francesa do mês passado era notícia atualíssima.

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