sábado, 30 de abril de 2011

Esperando Alice

 Eu sou do tipo que gosta de prevenir. Quero me antecipar aos problemas. Eu não disse antecipar os problemas, que é o risco maior que corro, tornando-me preocupado, ao invés de prevenido. Na prática, isso é difícil de distinguir.

 Às vezes, acordo ansioso pensando que estou atrasado nas providências com a Alice, que não estou preparado, que esqueci algo fundamental. Às vezes, acho que estou me precipitando, que está tudo no tempo certo e que as mais ou menos sete semanas restantes ainda é muito tempo.

 Nos nove meses da gravidez temos oportunidade para sentir e pensar de tudo. É tempo de sobra para se organizar. E se nascer prematuro? Minha mãe já me alertou, não precisa se preocupar, pois o bebê prematuro vai ficar um bom tempo internado no hospital. É uma realidade meio assustadora, mas realmente me tranquilizou.

 Já pintamos o quarto, compramos os móveis (esses levam quarenta dias para entregar, por isso, cuidado para não bobiar), já aprendi a fixar a cadeirinha no carro e muitas outras coisas. É preciso ainda preparar a mala para a maternidade, conferir o enxoval (tenho a impressão que minha esposa compra de tudo que é belo e poderá faltar algo que seja feio e prático), comprar itens de higiene para o bebê.


 Também já fizemos um curso de gestantes, no hospital, ministrado por enfermeiras, com participação de médico, psicólogo, nutricionista e até fonoaudiólogo, além de muitos comerciantes especializados na área.

 O curso tem algumas dicas que me pareceram boas, mas se são boas mesmo, ainda vou descobrir. Também foi uma ótima oportunidade para encontrar pessoas na mesma situação que nós, mas há algo de patético em dar banho e trocar a fralda de uma boneca.

 Suponho que o desafio, na realidade, seja trocar uma fralda suja, fedorenta e melecada, de um bebê que se mexe, chora e faz xixi.  Rápido, porque vai estar frio. Trocar fralda de boneca é o mínimo do mínimo, ainda mais que estamos falando de fralda descartável. 

 Acho que o mais útil nisso tenha sido perder a vergonha.  Quando fiquei de frente para a boneca, no meio de tanta gente, ainda que todos estivessem na mesma situação, tive vontade de recuar, senti que aquilo não é para mim, minha maior vontade foi passar o serviço para minha esposa.

 Não imaginei que pudesse se manifestar um sentimento tão patriarcal. Patriarcal? Será que criei um eufemismo para machista? Não. Boneca não é minha filha. Ainda acho que minha rejeição à trocar roupa de boneca é puramente recusa ao ridículo da situação, que enfrentei, engrossando o coro de risos da sala repleta de pais em primeira viagem trocando fraldas de bonecas.

domingo, 24 de abril de 2011

Pausa no oligoidrâmnio

 A gravidez é um período tenso. Mas também é afetuoso, terno, emocionante, revelador, transformador, contemplativo e muitas outras coisas. Um turbilhão!

 Estávamos ansiosos, incomodados, preocupados com a história do oligoidrâmnio. Sem desespero, sob controle, mas estávamos.

 No último ultrassom, a pior notícia que tivémos foi que nossa filha vai nascer corinthiana. Como eu sou palmeirense e a mãe são-paulina, a notícia é realmente muito triste. Mas há salvação, o doutor nos tranquilizou garantindo que todos os bebês nascem corinthianos, ou seja, carecas, desdentados, barrigudos e analfabetos!

 Pois é, no último ultrassom, houve espaço para brincadeiras, pois o índice de líquido amniótico voltou ao normal! Que alívio!

Manual de instruções?

Foto: Maura/Acervo Particular.

 Os bebês não vêm com manual de instruções. Não sei como esse senso comum se espalhou facilmente entre nós, pois são raríssimos os brasileiros que, como eu, são pacientes o suficiente para ler o manual antes de ligar o produto.
 
 Imagino que, para a grande maioria, saber que os bebês não têm manual de instruções é um alívio. A taxa de natalidade seria bem menor se para ter filhos houvessem cursos, provas, leituras obrigatórias... a natureza é sábia. 

 Curioso é como essa frase ganha múltiplos significados, conforme seu uso. Há os que querem te aterrorizar, dizendo que você está num mato sem cachorro. Há os que querem te acalmar, dizendo que você não tem culpa, que errar faz parte.

 Quando dita pelas vovós, a frase é valorização do conhecimento que elas possuem. O raciocínio é o seguinte, se os bebês não têm manual, vocês vão precisar de quem já passou por isso, ou seja, elas mesmas.

 O pai atrapalhado, com o bebê chorando no colo, quando a diz, é uma desculpa, até bem humorada, para sua falta de habilidade com a criança. Mas sempre fica a dúvida, se houvesse manual de instruções, ele teria lido? 

 Pois o mercado editorial está aí para desmentir a nossa frase pronta. Se o seu bebê não veio com manual de instruções, você pode comprá-lo em qualquer livraria ou em bancas de jornais. Não há um, mas centenas de manuais, nacionais ou estrangeiros, uns mais pediátricos, outros mais psicológicos, uns mais ameaçadores, outros mais tranquilizantes.

 O problema passa a ser o seu oposto, não a ausência, mas o  excesso: perante a imensa variedade de manuais, qual devo adquirir, qual é o compatível com o meu bebê?

 Por aí já se vê algo muito comum na paternidade. Todas as pessoas têm alguma dica fundamental para te dar, simples e milagrosa. Ante a ausência de norma certa e segura, abundam palpites e opiniões. Por favor, não parem de me dar palpites, contar suas histórias, casos e experiências. Além de achar interessantes, é dessa vasta matéria prima que poderei colher as ideias que servirão bem para minha filha. Estou plenamente ciente de que não há verdade única em matéria de cuidar de bebês, aliás, não conheço matéria alguma que comporte verdade única. 

 É justamente esse o significado mais interessante  que apreendo quando ouço que os bebês não vêm com manual de instruções. Não há regra infalível. Cada bebê é um ser humano próprio, com sua individualidade. O desafio é justamente compreender sua linguagem, deixar ele se expressar e interagir com ele. Ou seja, basta um manual de improvisações.

 Até bem pouco tempo atrás, pensava que tudo isso era uma grande bobagem, que os bebês vêm ao mundo zerados, com a HD formatada, sem saber de nada. Nunca vi sentido em perguntar para uma criança de pouco mais de um ano se ela quer suco de laranja ou de uva. Pensava que isso era mais um dos exageros da sociedade de consumo. Mas observando meus sobrinhos, conversando com outros pais e lendo as obras "científicas" sobre o assunto, mudei de opinião.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Tempos e contratempos

Não entreguei os pontos, tampouco estava tricotando. Não tive tempo. Na verdade, não tive tempo para este blogue, pois o tempo é o mesmo todos os dias. Os contratempos... talvez sejam os mesmos  todos os dias também, com as variações de quantidade e qualidade, que estão na nossa maneira de encará-los. Entre as minhas prioridades, entre os meus agendamentos, escrever neste blogue esteve temporariamente fora do topo da lista. A Alice continua nas primeiras colocações, toquei violão para ela. A mamãe grávida ficou resfriada! Será que a Alice também ficou? Foi ruim, mas já passou.  Volto animado no fim da semana que vem, aproveitando o feriado. Beijos e abraços!

sábado, 2 de abril de 2011

Passando na porta


 É passando em frente que um forasteiro como eu vai descobrindo o que a cidade tem para oferecer. Claro que muitas vezes peço dicas às pessoas que vou conhecendo, mas o segredo é perguntar a pessoa certa e percebo, algumas vezes, que elas não compreendem a importância da minha pergunta ou ficam receosas de se comprometer.

  Quem já teve a oportunidade de ir morar sozinho em uma cidade desconhecida, em que todas as pessoas são desconhecidas, sabe o que estou dizendo. Já passei por isso duas vezes, uma sozinho mesmo, outra só eu e minha esposa. Desde o melhor caminho até que médico consultar, tudo é um aprendizado novo. 

 Agora tenho observado o comércio infantil. Curioso é que, passando na porta, as lojas de bebê são todas muito semelhantes, não é possível saber se no local funciona uma loja de brinquedos, uma loja de roupas, um buffet infantil ou até mesmo uma escolinha.

 Olha, ali tem uma lojinha de bebê, exclamei para minha esposa, que começou a rir. Não era lojinha de bebê, era pet-shop! Em minha defesa postei a imagem acima. Claro, como há pessoas que tratam seus cachorros como se fossem bebês, também há lojinhas de cachorro como se fossem de bebês.

 É por isso que tive muito prazer em procurar e encontrar o enxoval da Alice na minha terra natal. Além dos atalhos e facilidades de estar em casa, pude reconhecer nos olhos da costureira os meus amigos de infância. Nada é tão reconfortante quanto estar entre amigos e conversar com pessoas que sabem quem somos e de onde viemos.

*origem da imagem: http://puppyangel.com.br/bbs/shop.htm