sábado, 5 de março de 2011

Balada de carnaval

 Depois de um dia de trabalho, chegamos em casa, tomamos um banho e, como é sexta-feira, é carnaval, decidimos sair para um passeio tranquilo e até trivial, comer fora e ver cinema nacional. Mas decidimos errado.

 Mesmo antes de sair de casa notei que algo não estava bem. Impliquei com minha esposa devido à quantidade de vezes que ela se trocava para escolher a roupa certa. Queria dizer que ela estava bela e deveria se acostumar com a nova forma. Mas expressei-me mal. Ela pensou que era uma implicância de marido apressado, ela disse que não ficaria feia só porque estava grávida e, como boa esposa que é, mesmo contestando, se apressou. 

 Impliquei novamente, pois pressa era exatamente o que eu não queria, tentei esclarecer que uma mulher grávida deve se preservar mais, se cuidar mais, sem que isso signifique ser uma mulher resmungona, dependente do marido ou da mãe. Claro que implicâncias não esclarecem nada, mas podem abrir à força o buraco onde se plantam as sementes.

 Entramos no carro, quando esperávamos tudo se acalmar, nossa filha mostrou quem manda, ficou agitada, começou a chutar e assim nos lembrou que ela tudo sente e presencia. Imediatamente decidimos voltar para a casa e repousar.  A grávida passou a aceitar um novo limite, um novo ritmo para seu corpo e sua disposição, eu fico pensando em como posso ajudá-la.

 Chegando em casa, nada de televisão, nem precisamos ligá-la para saber que não vai nos agradar. Pedimos uma pizza por telefone e nos largamos na cama à toa. Pensei em tomar uma cerveja. Pensei se alguma vez na vida eu já tinha tomado uma cerveja de pijama na cama. Talvez pelado? Mas não me lembrei de nada.

 Os antigos dizem, o casamento só começa quando vêm os filhos. Gostei muito dessa frase que meu tio me transmitiu. A primeira questão que me intriga é se já devo já incluir o meu tio entre os antigos, ao menos para mim, já que foi ele quem me disse. Mas não sinto assim, meu tio é jovem, ele não terá como escapar quando eu, dando continuidade na tradição, repetir essa frase aos meus filhos e sobrinhos.

 Essas frases cristalizam o conhecimento popular. Eu já sinto que se aproxima um novo equilíbrio no casamento, que o desafio de educar os filhos traz consigo o desafio do relacionamento do homem com a mulher.

 A gravidez aflora o ditador que mora dentro de mim. Tenho uma vontade enorme de interferir na vida dela, tomar decisões por ela, pensando no bem de nossa filha. Algumas decisões são bem pequenas, como obrigá-la a usar chinelos, não descer a escada para buscar água, não ficar de cabelo molhado, não abaixar para nada. Outras já são bem maiores e nunca pensei que iria senti-las, por me parecerem demasiadamente antiquadas, como proibi-la de trabalhar.

 Estou ciente de que isso é só o começo, mas é um bom começo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário