sábado, 3 de dezembro de 2011

Comida nova, cocô novo


Alice já está comendo papinhas, que a mamãe mesmo faz questão de preparar. Não é exatamente como eu faria, pois os livros e a pediatra indicam para não bater no liquidificador, mas a mamãe bate. Como não sou eu quem faço, nem sou eu quem dou a papinha ao bebê, não tenho legitimidade para mandar, só fico no palpite mesmo, é um palpite técnico, com fundamento em benefícios futuros para o desenvolvimento do paladar da criança, mas que não são nada palpáveis. Por ora, o que está valendo, com grande destaque, é a alegria e vontade de comer que Alice demonstra. Não dá mais trabalho do que o esperado, abre o bocão e come tudo! 
 A mudança alimentar alterou a rotina intestinal. Alice ficou umas 48 horas sem fazer cocô,  quando veio, a fralda não segurou tudo o que devia, era muito, até percebermos a dimensão da cagada, sujou o sofá, o tapete, escorreu cocô pela perna, pingou merda pelo chão da casa, até chegar ao quarto. Isso foi da primeira vez, ela ainda fica dois dias sem fazer cocô, mas agora, quando vem, começa com uma bolinha, bem escura, Alice fica vermelha, faz força. Trocamos a fralda e logo depois vem um cocô pastoso em grande quantidade e muito fedido! Enquanto só mamava no peito, o cocozinho era uma beleza, quase uns fios de ovos, sem cheiro, colorido vistoso.  
 Liguei para minha mãe e contei, com um quê de preocupação, que Alice estava há dois dias sem fazer cocô. De princípio, ela diz, séria, que isso não é doença, não é problema, é adaptação. Depois ri, espontânea, fazendo pouco caso de minhas preocupações, mas sem as desprezar, então resgata histórias do estimado Pe. João, que em sua boa oratória, com humor, dizia que ouvia na rua muitas pessoas preocupadas com o cocô da mariana, o tombo do rafael, mas que ao abrir o jornal, desse mesmo dia, as notícias falavam de guerras, crises, escândalos, tão preocupantes, mas tão pouco comentadas. 
 Enfim, quando li que o papel do pai, na educação dos filhos, é impor limites, demonstrar autoridade, achei que não iria desempenhar tal papel à rigor, já que sou muito carinhoso, cuidadoso e envolvido no desenvolvimento da Alice. No entanto, isso não vai ser problema, pois perto do nível de carinho e cuidado que são oferecidos pela mamãe, sou muito tosco! Vejam só, a mamãe fica com dó (não é pouco, ela fica mesmo sentida e querendo ajudar), quando vê a Alice vermelha, fazendo força para fazer cocô. Mãe é demais. Pudera! Podei isso na hora.

Vai pro seu quarto!

Enfim, Alice volta a dormir em seu quarto. Há algumas semanas tenho dito que está na hora de Alice voltar a dormir no quarto dela, mas a mamãe achava mais cômodo que ela ficasse no berço, ao lado da nossa cama. Hoje é a terceira noite que Alice dormiu sozinha em seu quarto e, quem está feliz, é a mesma mamãe que estava receosa. Claro, como não deixa de ser mãe, fica com uma babá eletrônica que lhe permite ver o bebê a qualquer momento, mas ficou bem mais leve assim. Com Alice no quarto dela, não é qualquer barulhinho que nos acorda, por vezes, Alice está apenas se mechendo, espreguiçando, lamuriando, o que era suficiente para nos deixar alerta, sem necessidade.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pagando promessa



 Cumprindo promessa feita neste blogue. A foto acima é de 2011, para ser comparada com a de 2010. Pensei que eu estaria mais velho, o que se demonstraria em mais fios de cabelos brancos. Acontece que, para feliz surpresa, Alice me deixou mais jovem. Curioso e contraditório como a vida é: sinto-me mais jovem e mais experiente! 
   

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

É só mais um

No dia de meu aniversário fico muito propenso a introspecção, mas este começou bem. Ganhei de presente de minha esposa o seu sorriso aberto e seu olhar vivo e brilhante, antes mesmo de levantar da cama. Com a Alice em casa, o primeiro olhar do dia já faz tempo que não é para mim, mas hoje pude recordar nossos primeiros dias de casado, acordávamos juntos, eu sempre impressionado como uma pessoa pode acordar tão bela, feliz e sorridente, antes mesmo de lavar o rosto. Alice acordou logo depois, igualmente encantadora, mas essa pequena faz isso comigo todos os dias. Tadinha, levei-a para tomar vacina, duas injeções, uma em cada perna. Chorou na hora da picada e acalmou-se no colo da mãe, enquanto eu lhe explicava que todo dia ficamos mais fortes, alguns dias, ficamos ainda mais fortes. Depois, uma especial surpresa, recebi o telefonema de uma amiga que tinha mais de mil motivos justificáveis para não ter tempo de ligar ou mesmo para esquecer do meu aniversário.  Chegando ao trabalho, outra surpresa, reencontro o cabo do meu celular, que eu estava procurando há dias. Também hoje começo a usufruir o presente que dei a mim mesmo: estacionar o carro bem ao lado do meu local de trabalho. Espero que essa comodidade, que me poupa uns oito minutos de caminhada, não complique minha saúde, aliás, não posso esquecer de tomar água durante todo o dia, já que tive dores de cabeça nos últimos três dias, sem que pudesse culpar o trabalho, pois era feriado prolongado. No almoço, em casa, minha esposa prepara outra surpresa, comprou um bolo para cantarmos um parabéns e nos deliciarmos após o almoço. Tudo muito bem, no trabalho, ninguém se recordou de meu aniversário, estava já tranquilo quanto a isso, vendo o lado bom, que é não trabalhar entre "puxa-sacos", até que, no final do expediente, estavam todos lá em torno da mesa posta para um café e bolo. Uma recepção afetiva e bem humorada. Por fim, mais telefonemas e postagens pela internet, repleto de mensagens, algumas mais profundas, outras mais singelas, mas todas especiais.  Assim pude me sentir prestigiado neste dia, em que comemoro 34 anos de vida e cinco meses de paternidade. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Remédio

Alice tomou seu primeiro medicamento. Vimos pela manhã umas manchas vermelhas, em  toda a barriga e costas, os pais, tranquilos, pensam que bebês são assim mesmo, ainda mais a nossa filha, que é especialmente branca! 
 Na hora do almoço, já não tão tranquilos, notamos que as manchas não melhoraram, estavam até mais vistosas. Então fizemos algumas fotos, ligamos para a pediatra, mas como não conseguimos o contato, deixamos recado. Enviei e-mail com as fotos para minha irmã e, novamente, pensamos que não há de ser nada, o ar é que está muito seco, a construção aqui no vizinho faz muito pó, então, deixamos o umidificador de ambiente ligado e esperamos que logo melhore.  
 Final da tarde, minha esposa me liga com voz estranha. Estava ansiosa, o que é compreensível, pois ficou em casa sozinha com a Alice, a médica não havia retornado e as manchas continuavam. Viu que a Alice, quando colocada no trocador, se contorcia, como meio de coçar as costas.  
 Então reiteramos a ligação para a médica e enviamos uma foto para o seu celular. Ela nos retornou, com seu bom humor e alto astral, imprescindíveis para os pediatras, e concluiu que seja apenas uma alergia mesmo, já que sem febre, sem indisposição. Ficamos mais calmos. Receitou Hixizine, um xarope doce que aplicamos via oral com uma seringa sem agulha. Alice no colo do papai, a seringa na mão da mamãe. Tchup! Foi num jato só que 1,5 ml de remédio foram direto para a garganta da Alice. Espantoso! Foi rápido e fácil. 
 O difícil agora é descobrir o que desencadeou a alergia. Não fizemos nada diferente, usamos o mesmo sabonete líquido, as mesmas fraldas, as mesmas roupas, o mesmo sabão em pó para as roupas. O terrível é que ela pode desenvolver alergia a um produto a que ela já estava acostumada. 
 Ah! Fizemos algo diferente, que foi dar meia banana amassada, aliás, essas são outras datas para deixarmos aqui registradas: primeira raspinha de maçã (01/11/11), primeira banana amassada (07/11/11). Para grande tristeza da mamãe, que adora bananas, suspeitamos que Alice é alérgica a elas.
 Hoje pela manhã, quando Alice completa cinco meses, observamos que reagiu bem ao medicamento, sua pele está branquinha novamente, aliás, acho que a pele de Alice, de tão clara, é rosinha, não branca. Mas, ao darmos o banho matinal, notamos que o bumbum continua vermelho, o que nos faz pensar que a alergia pode ser da fralda descartável. Já tomou a segunda dose do medicamento e, na hora do almoço, vamos observar o bumbum para ver como está. Já pensou se ela tiver alergia a todo tipo de fralda descartável?!

sábado, 5 de novembro de 2011

O que você faria?



 Essa foto não é de um meteorito, nem de um cocozinho de cabrito, é o coto umbilical, já seco, caído de Alice. Um pedaço de carne morta que não tem cheiro nenhum. Quase joguei no lixo. MAS o danado está carregado de uma simbologia (não de minha parte). Dizem que representa a origem da vida, o elo vital com a mãe ou algo mais que você poderá me dizer.
 Então peço uma AJUDA, uma sugestão, o que eu deveria fazer com ele? 
 Já adianto. Minha mãe colocou o meu "umbigo" (entenda-se, coto umbilical), dentro de um livro de física, segundo ela, bem difícil. Hoje não sabemos onde está o livro nem o umbigo. 
 Minha sogra guarda o "umbigo" de minha esposa até hoje (é mole!?). Mas desconfiamos que ela só tem um "umbigo" guardado, MAS tem duas filhas e já não sabe de quem é (hahahahaha!).
  Digam, o que fazer com isso? Escrevam aí nos comentários. 


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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Música

Uma amiga de minha irmã, que também tem filha Alice, indicou duas músicas com esse belo nome! Apreciem.



sábado, 22 de outubro de 2011

Dorme comigo

 Alice, acabei de te fazer dormir, no carrinho. Sua tia foi a primeira a fazer isso e, por algum tempo, a única que conseguia. Depois de mais de quatro meses dormindo apenas no colo, com o incentivo e o ensinamento da tia, bastaram duas semanas e já gostas de dormir no vai-e-vem do carrinho. 
  Deixe-me explicar melhor, para quem não é da área. Os bebês não sabem dormir. Podem estar com muito sono, mas não se entregam facilmente. O pais precisam preparar o caminho. 
  Hoje conheço os teus segredos. O primeiro é te enrolar  numa manta, prendendo teus braços e envolvendo teu corpo. Tu nasceste no frio e adora dormir enroladinha, no começo, quando se mexia parecia uma minhoquinha, um bicho de goiaba, um casulinho. Mesmo agora, com dias mais  quentes, é fundamental te envolver antes de dormir. Aliás, isso me fez pensar em mim, pois pode estar o calor que for, eu prefiro dormir embaixo do lençol. 
 Depois de enrolar, te pego no colo, bem junto ao corpo e começo um balanço suave. Fiz muitas experiências até descobrir qual é o embalo ideal para te aconchegar e acalmar, sempre contando com a ajuda da mamãe. O que fico intrigado, até hoje, é que tenho de estar de pé. Não adianta ficar sentado, ainda que simule o suingue de estar de pé. Tu percebes e choras sempre que sento. Há algo mágico em ficar flanando há um metro e meio do solo que não existe se o papai estiver sentado. 
 Como se não bastasse, tuas preferências mudam, inesperadamente começaste a recusar meu colo, esperneando e berrando. Após erros e tentativas, descobri que estavas cansada de olhar só para mim, preferias ficar com vista para o mundo.   
 Foi assim que perdi o medo do desconhecido que tive logo nos primeiros dias. Descobri que te fazer dormir no colo é a sensação mais próxima que conheço da plenitude. Transborda paz e ternura.
 Acontece que a vida não é feita apenas desses momentos. Sinto profundamente dizer que é cansativo te fazer dormir no colo todas as vezes, ganhaste peso e não poderemos ficar assim para sempre. Educar não é só amar e desconfio que a educação começa antes mesmo da gravidez. É uma opção de seus pais, queremos dar-lhe independência. Mimar demais pode ser gostoso para nós três, mas o risco é nos tornarmos todos adultos carentes, dependentes. Amor não é isso, pelo menos não deveria ser isso. O segredo está no equilíbrio, queremos que você se sinta independente, seguindo o seu próprio caminho, jamais queremos que você se sinta abandonada, largada no mundo.
 Mas eu estava mesmo te dizendo sobre tuas manias para dormir. Não é raro, mesmo acalentada no colo, te ouvir fazendo barulhos, por vezes gritos mesmo, segundos antes de dormir. É muito curioso, quem visse e ouvisse os berros jamais imaginaria que o bebê estava se encaminhado ao sono. É um berro nervoso e, no instante seguinte, como uma mágica, os olhos fechados e o corpo mole, totalmente solto, entregue, numa paz e serenidade.
   No vai-e-vem do carrinho, tu dormes direto, sem os berros, numa paz, então me parece que preferes assim e eu fico a pensar, condoído, que a independência não parte apenas de mim. Bom sono, filha, e obrigado por tudo, afinal, apesar dos trabalhos, pude escrever este texto todo antes que teu sono acabasse ou, mais que isso, pude experimentar e viver bons sentimentos.

domingo, 9 de outubro de 2011

Quem tá na chuva



 Alice tomou sua primeira chuva! Foi de improviso, como costuma ser o prazer de tomar chuva. Em plena Praça da República, no centro de Sampa. Eu não poderia imaginar lugar melhor, tão simbólico para mim e para a nossa cultura. Era apenas uma garoa, mas tal engrossou e nos pegou no caminho. Podíamos nos esconder ou correr, fizemos os dois, corríamos e descansávamos, buscando proteção junto a uma barraca de artesanato ou banca de jornais. Aproveitamos muito a adaptação da cidade aos cadeirantes, pois Alice foi no seu carrinho, uma máquina de corrida. Foi divertidíssimo, uma benção! Aliás, não a única do dia, pois fomos lá para comemorar o casamento de um grande amigo meu. Estávamos receosos por não saber como ela iria se comportar, como ela seria recebida, se haveria espaço para nós, afinal, penso que bebês não dão trabalho apenas para os pais, mas podem incomodar muitos ao seu redor. Estou começando a mudar esse pensamento, talvez os bebês só incomodem gente chata. Foi tudo ótimo nesse casamento! Claro que temos novas restrições, por conta dos cuidados com a Alice, mas temos também muitas alegrias por conta dela. Vocês já ouviram falar que para agradar aos pais, basta agradar seus filhos? Senti isso na pele. Alice foi muito querida, até por gente que nós não conhecíamos ou com quem não temos muito contato.  Fiquei muito orgulhoso e lisonjeado. Acho que contribuiu para o sucesso desse encontro o fato de que este casal amigo está cercado de pessoas boas, de mente aberta (não são preconceituosos, nem tem idéias fixas), são pessoas especiais.
  Enfim, deixo aqui o registro de minha imensa felicidade por ter reencontrado bons e imprescindíveis amigos, que não me estranham, nem me tratam de maneira diferente só porque estou com um bebê (não sei donde tirei essa suspeita de rejeição, acho que foi do livro inglês que li).
  A foto lá em cima é de antes, segue a foto do depois. Beijos e Abraços, Marcelo.
xii... a mamãe ficou para trás!
 

 PS: Isso tudo foi ontem. Hoje, Alice completou 4 meses, com mais de 6 kg e mais de 62 cm de comprimento.


domingo, 25 de setembro de 2011

Anjo não tem cor



 Antes do nascimento da Alice eu achava uma bobagem essa coisa de chamar bebês de anjinhos. Hoje conheço a sensação celestial de ficar apreciando a Alice dormir, o efeito é imediato, você pode chegar em casa com fome, após um dia estressante, mas ao ver sua filha dormir é instantaneamente tomado por um estado de graça, que te põe leve e sorrindo.
 Talvez seja por isso que chamam os bebês de anjos, mas também há outro fator de comparação, que é o sexo, explico melhor, assim como os anjos, os bebês não parecem ter sexo, não têm cara de menino ou menina, muito menos de homem ou mulher, são bebês ou anjos, palavras que não tem flexão de gênero. 
   O substantivo de dois gêneros é o recurso linguístico para resolver um problema prático: como é difícil identificar, de uma só olhada, se estamos diante de um recém-nascido menino ou menina, basta dizer: que bebê lindo! Tenho imenso prazer em admirar essa sábia razão inscrita nas raízes da língua portuguesa, que preenche de sentido normas que poderiam parecer artificiais. 
 Acontece que nem todos dominam a língua portuguesa e já aconteceu de pensarem e manifestarem que nosso bebê é um menino. É verdade que tanto eu como a mamãe gostamos de outras cores além do rosa, nossa filha usa amarelo, usa branco, usa cinza, usa verde e também usa o rosa ou roxo. Gostamos dessa diversidade, mas me parece que a maioria das pessoas, falou em menina, só pensam em rosa, rosa, rosa e roxo. Aqui em casa, temos até uma manta azul para a Alice, não foi uma compra deliberada, mas aconteceu que logo nos primeiros dias de vida da Alice gostamos muito de uma manta de microfibra branca, que é macia, quente, confortável, antialérgica e do tamanho ideal. Como estava frio, usávamos muito, então precisávamos de outra igual, mas na loja, desse modelo, só tinha azul. A mamãe não pensou duas vezes para comprar. Não saímos de azul pela rua, porque não queremos dar causa a mal entendidos e só vou postar a foto aqui porque o texto explica a questão.
 Deixo uma dica, nos dias de hoje, se você quer descobrir o sexo de um bebê sem olhar os seus genitais, não vá direto nas cores, por enquanto ainda funciona verificar se tem brinco na orelha ou enfeite no cabelo, somente após essa observar essas ausências você poderá arriscar que é um menino. Se não quer arriscar, pergunte o nome e pronto!


Voltando a metáfora dos bebês anjos, observo ainda uma outra característica essencial que nos leva a ver os bebês como anjinhos: a transcendentalidade. Essas pequenas criaturas, definitivamente, não parecem terem vindo deste mundo. São seres em transição, estão um pouco lá, pouco cá. A tal benção divina por muitos comentado.
 Não são poucas as vezes que Alice me lança um olhar profundo e filosoficamente perturbador, como se ela me perguntasse, com seriedade e interesse na resposta, quem é você? onde estamos? porque eu estou assim? 
 Em alguns momentos,  parece-me que ela está tentando resgatar algo em minha memória, como se já nos  conhecêssemos, mas eu não estou lembrando de sua pessoa. Em outros momentos, Alice me parece indignada com suas limitações, ela quer andar, ela quer falar, ela emite diversos sons, nós respondemos, mas ela percebe que não a entendemos, ela sente que não consegue andar, então fala mais alto e agita braços e pernas, o que me parece ser uma revolta por uma nova situação que lhe é estranha.
 Como pai, quero mesmo é tornar a estada de Alice neste mundo o mais doce e feliz possível, sem me esquecer de que para isso serão necessárias algumas duras medidas educativas, que a tornem uma pessoa livre, consciente e independente. 
 Vejam só, hoje mesmo sonhei que a Alice já estava falando, era um caso raro no mundo todo, um bebê de três meses que já dizia frases com três palavras. No sonho, eu e a mamãe estávamos espantados e encantados, combinamos de não contar nada para ninguém, porque não queríamos a imprensa violando nossa privacidade.  
   

sábado, 17 de setembro de 2011

Bebezinho, bebezão

 Bebê é uma palavra que se tornou insuficiente hoje, que recebemos a visita da Helena, com seus oito meses de idade. Lembram-se daquele casal amigo que segue sete meses na nossa frente, abrindo o caminho, puxando a fileira? Pois então, eles vieram conhecer a Alice e tivemos um encontro gostoso,  descontraído e interessante como devem ser os encontros entre amigos. Ter filhos pequenos em nada reduz esse prazer, pelo contrário, enriquece.
 Tanto eles, quanto nós, ficamos impressionados, um com o bebê do outro. Eles achando a Alice tão pequenininha e fofinha, com a impressão de que foi há muito tempo atrás que a filha deles tinha esse tamanho. Nós achando a Helena tão grande e comunicativa, que pareceu muito distante o dia em que Alice ficará desse tamanho.
  Olha que nós estávamos achando a Alice um bebê já pesado e grande, pois tínhamos como referência a própria Alice quando nasceu, mas após essa visita, também passamos a vê-la como pequenininha e fofinha. E, como se a reciprocidade das impressões não bastasse, eles também passaram a achar a Helena uma adulta, tão grande comparada com a Alice.
 Helena é movida a vitamina S, tem habilidades incríveis, como virar a cabeça com rapidez para onde quer, olhar as pessoas nos olhos, usar as mãos para indicar o caminho onde quer ir, além de se movimentar pelo chão. Tão logo viu a Alice, fixou o seu olhar no nosso bebê, numa atração que só a natureza poderá explicar, com as mãos estendidas e o corpo inclinado em direção à sua nova amiga. Talvez seja essa a ideia, quanto mais velhos ficamos, mas dificuldade temos para fazer amizades, ou, pelo reverso, quanto mais novos somos, mais rapidamente fazemos amizades.
 
 São tantas diferenças entre um bebê de pouco mais de um mês e um bebê de oito meses, que até me pareceu necessário uma palavra diferente para cada estágio desse desenvolvimento. Ou melhor, é preciso entender que o bebê é um ser em franco desenvolvimento e crescimento. Em nenhum outro período da nossa vida vamos crescer e nos desenvolver tanto e tão rápido desse jeito. Quinze minutos na vida de um bebê equivale a uns dois meses na vida de um adulto.
 Agradeço pelo presente, foi muito bom encontrar essas pessoas amigas, dessa vez, ficou a seguinte lição, para que o tempo passe rápido, o segredo é não olhar para o relógio ou calendário, é preciso curtir cada momento.
* o texto estava esboçado já algum tempo atrás, no papel e caneta mesmo, mas só agora editei-o neste blogue.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um dia de pai



Se você me ligasse para conversar, provavelmente ouviria um trecho da história cuja versão completa conto aqui. 7 de setembro, feriado nacional, caiu numa quarta-feira, não é um feriadão, mais parece um dia de trabalho em que não trabalhamos. Para aproveitarmos, começamos ontem, seguindo a ousada sugestão da mamãe, locamos um filme para assistir em casa, depois das 20h, horário em que geralmente dormimos, para nós, dormir 22h30 é o equivalente a madrugar, mas estamos dispostos a essa aventura. Tudo funcionou como planejado, mamada para Alice 19h30, pouco depois ela já estava dormindo. Então vimos, sem interrupções, “Biutiful”, que foi uma escolha minha. Já imaginava que seria um filme pesado, mas para quem viu “Leonera” na gravidez, sem traumas, considerei que não teríamos problemas, como realmente não tivémos, apenas ficamos comovidos e tristes. Em verdade, esperava encontrar no filme um pouco mais da beleza, ainda que em meio das misérias humanas, que a transformam na tal “belesa”, que lhe serve de título. Até há beleza no filme, mas ela só serviu para nos transmitir mais tristeza e a amargura, que ao final, só nos restou dormir, então fomos direto para a cama, já que qualquer vinte minutos é tempo precioso quando se tem um bebê em casa. Mamãe adormeceu rapidamente, mas eu não parava de pensar e pensar, não no filme, mas em questões profissionais que me deixaram ansioso e me tiraram da cama. Fui para a internet e só me desliguei dela 1h30 da manhã, ainda esperto, pois o computador, muito diferentemente de livros, não me encaminha para o sono. Então bastou ler dez minutos da Teoria Pura do Direito e pronto, finalmente passei para o lado de lá da vigília. Alice, conforme sua rotina, só acordou 4h40, para mamar, eu levanto também, sem o menor mau humor, para acalentar minha filha, enquanto a mamãe toma água e pega a almofada, então coloco o bebê no peito dela, anoto o horário da mamada no caderno, deixo um relógio para mamãe acompanhar o tempo, verifico se ela tem um paninho babadouro por perto, preparo a manta que irá embalar nossa filha novamente, pergunto se a mamãe quer mais um copo de água ou outra coisa. Tudo isso não dura mais que dois minutos e volto a dormir, surpreso comigo mesmo, por conseguir acordar bem humorado, mesmo estando com o sono atrasado. Na primeira semana, acordar para essas tarefas me deixava atônito e mal-humorado, hoje, pelo contrário, penso até que terei saudades. Aliás, é pelo receio dessas possíveis saudades, ou, pior ainda, pelo receio de esquecer disso tudo, que vou deixando esses escritos por aqui. Alice, também seguindo seu costume, acordou 7h30, a mamãe foi vê-la e, dessa vez, extraordinariamente, muito fora do costume, o bebê vomitou uma grande quantidade de queijinho, o que assustou a mamãe, foram dois volumosos jatos. Tive que rapidamente levantar, pegar o bebê todo melecado e acalmar a mamãe, para que ela não passasse seu susto para o bebê, que estava melecado, mas estava tranquilo. Novamente, fiquei surpreso comigo, pois apesar de não ter ido dormir 20h, como de costume, estava com disposição para começar o dia e a nossa rotina que agora conto para vocês. Tirando algumas variações, como hoje, que tivemos que trocar os lençóis e o protetor do berço, a Alice acorda por volta das 7h, mama, o que a deixa relaxada, então descemos eu e mamãe para o nosso café da manhã, enquanto o bebê fica na sua cadeira de balanço, ela dá uma choradinha vez em quando, cada dia menos. Findo o café, damos o banho, o que é feito no quarto. Cabe a mim encher a banheira com água quente do chuveiro e carregá-la até o quarto. Não temos termômetro, às vezes, precisamos acertar a temperatura com uma panela de água fria. Penso que essas variações da temperatura da água preparam nossa filha para as surpresas do mundo. Penso que sou muito bobo ou exagerado por ter esses pensamentos. A mamãe é quem dá o banho, eu pego a Alice saindo da banheira com a toalha, enxugo, passo pomada, coloco a fralda e a roupa que a mamãe escolheu. Só então eu vou tomar banho e saio para trabalhar, às vezes, para acelerar, já tomo banho antes do café, enquanto a Alice está na primeira mamada do dia. No começo, mamãe também tomava banho de manhã, mas agora, para agilizar, está tomando banho de noite. Está tudo orquestrado, com espaços para improvisos. Depois do banho, Alice dá outra mamada, fica brincando por volta de 40 minutos e dorme bastante, umas duas horas, tranquilas, tem dia que dorme até mais que isso. Temos bastante segurança nesse sono da manhã. Por vezes, como neste feriado, passo a manhã com a Alice, para que a mamãe possa sair de casa, espairecer, o que faz indo ao supermercado. Como hoje é feriado, não tem empregada para fazer almoço em casa, nos viramos com uma industrial lasanha congelada e alface que já estava lavada na geladeira. Alice ficou bem durante o nosso almoço, em sua cadeirinha, mas não é sempre assim, por vezes, quer colo, quer passear, chorar um pouco. Quando ela fica muito inquieta e insatisfeita, penso que a vida pode ser mesmo entediante, principalmente quando não conseguimos nos distrair por nossos próprios meios. Lembro que precisamos cultivar a independência dessa menina e isso não parece muito fácil. Para a tarde, planejamos um passeio no parque. Gostamos de sair logo após a mamada, para aproveitar melhor os intervalos entre as mamadas, mas dessa vez foi preciso trocar a fralda, com cuidado, pois a barriga cheia proporciona vômitos. Já imaginou alguém levantando suas pernas, comprimindo e erguendo o seu abdômen? Vomitar era o que um adulto faria de mais delicado. 
No carro, eu aperto o cinto de segurança cinco pontos da Alice, pois a mamãe tem um pouco de dó, acha que é incômodo, muito justo, aliás, ela gosta de tudo bem largo para o bebê, diz que é mais confortável, dessa vez, mamãe vai dirigindo, pois quer se acostumar com essa tarefa, o que foi bom para mim, que recebi o telefonema de um amigo de faculdade, que também é papai, conversamos sobre trabalho e filhos, gosto muito de ouvir meus amigos. Chegando no parque, uma pequena dificuldade para estacionar o carro, minha esposa ficou por lá e eu fui procurar uma vaga para estacionar, nem demorou muito, voltei para o parque e tive uma antiga fobia, que me acompanha desde a infância. O parque é grande, estava cheio de gente e crianças, passo o olho ao redor, não encontro minha esposa e filha, fico pensando e sentindo que estou perdido, que elas se perderam, que não vou encontrá-las mais, bate um pequeno desespero que dura poucos minutos, pois já aprendi a não deixá-lo crescer. Calmo, encontro com alegria o carrinho verde kiwi da Alice e a mamãe atenciosa, um beijinho e vamos passear entre as árvores e flores, muitas crianças correndo, brinquedos de diversos tipos, roda de crianças ouvindo dois palhaços, aviões de exibição, paramos para algumas fotos. É tudo muito gostoso, Alice nos faz resgatar alguns encantos da infância, mas penso que vou enjoar disso algum dia, torço para que esse dia demore a chegar. Por enquanto, Alice cansa do passeio antes de nós, começa a resmungar, só sossega no colo, vamos até o carro, Alice mama novamente e dorme logo em seguida, então passamos na locadora para devolver o filme e na padaria, para comprar um café que acabou se tornando nossa janta, mesmo. Um sujeito chato e folgado quer dinheiro para olhar o carro, mesmo num dia pacato como este, acontece que eu fiquei no carro vigiando a Alice, enquanto mamãe comprou “jamón”, o que nos recorda o prazer das viagens mundo afora. Já em casa, um dia feliz como este, ainda tive tempo para escrever este texto, mas sem muito tempo para reler. Já é quase 19h30, vamos trocar a fralda, dar mamá com luz apagada, colocá-la sentadinha para arrotar, envolvê-la em sua manta, aconchegá-la no colo e descansá-la no berço dormindo com seu rosto angelical. Pronto! 20h30, vou dormir rapidamente que amanhã, já pela madrugada, tem mais.  

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Alice por quê?



 Você ainda não me perguntou, mas já vou respondendo, mesmo porque poderei esquecer isso futuramente. É Alice porque todo bebê precisa de um nome. Não podemos esperar você crescer para escolher, a sociedade exige já, o moço no cartório vai perguntar qual o nome da criança, eu preciso responder, não posso ficar confuso, balbuciando, telefonando para a esposa ajudar, então já combinei com a mamãe antes, no balcão do cartório, quando me perguntarem, digo que vai se chamar Alice e pronto! O nome é seu!
 Espero não receber de volta a pergunta, como é que se escreve? Uma das características que buscamos para o seu nome era justamente soar bem em português, não deixar dúvidas aos ouvidos brasileiros. Alice tem ainda outra vantagem, é um nome presente em várias culturas, com variações fonéticas, é verdade, mas sem variações de grafia. Assim fica mais fácil se identificar, por aqui e pelo mundo afora, sem que as pessoas fiquem lhe torcendo o nariz, estranhando, pedindo para soletrar. 
 Mas isso não quer dizer que buscamos um nome comum, corriqueiro. Pelo contrário, queríamos também um nome que fosse especial, que se destacasse, que a individualizasse. Raro  sem parecer estranho. Pais são assim, querem tudo de melhor para os filhos, mesmo quando o tudo traga coisas que pareçam incompatíveis. 
 Estamos contentes com a escolha, um achado da mamãe,  um nome curto, expressivo, fácil de falar e gostoso de ouvir. É um nome forte e ao mesmo tempo delicado. Podemos gritar ALICE ou sussurrar a l i i i c e e e, que fica bonito. Aliás, este é o principal motivo que nós brasileiros usamos para escolher o nome: ser bonito; ou melhor, os pais acharem bonito.
 É verdade que em casa, na intimidade do lar, nós te chamamos de muitos outros nomes, apelidos carinhosos, que por respeito a nós mesmos, não vou publicar aqui, nem colocamos no seu registro de nascimento, afinal, esse registro é para a sociedade. Aqui em casa, você não precisa de registro para ser amada e respeitada. 
  Não quisemos homenagear ninguém, nenhum parente, amigo, artista, personagem, santo, muito menos jogador de futebol. 
 Estamos ciente de que no futuro seu nome poderá se mostrar mais comum do que é hoje, bem como haverão os que te chamem de Maria Alice, Doralice, Alícia ou Aline, mas essas variações não podem ser imputadas como defeito do seu nome, pelo contrário, quando isso acontecer, não fique triste, as pessoas erram e, na maioria das vezes, isso não é pessoal.
 Enfim, com o seu nome, quisemos apenas presentear você, mais um motivo de orgulho para os pais. Esperamos que goste.

sábado, 23 de julho de 2011

Primeira Viagem!


 Alice, no sábado passado, foi até a casa de seus avós, passar o fim de semana, encontrar seus parentes, brincar com seus primos. Os pais, claro, estavam ansiosos com o que aconteceria: ficaria muito agitada? iria dormir bem? pegaria um resfriado, gripe? iria chorar a cada pessoa nova que a visse? que a pegasse? 
 Se tivéssemos poucas dúvidas, pouca ansiedade, pouca preocupação, seríamos pouco pais. Considero que somos pais normais, com medos que não nos paralisam, afinal, pudemos  viajar com a nossa filhinha de um mês e uma semana de vida, por 90 km de distância, numa cidade nas montanhas, com seu ar fresco e frio em pleno mês de julho.
 O resultado foi ótimo! Alice não pegou gripe, sentiu o calor e a alegria de muitos colos, recebeu sorrisos (pena que ainda não saiba retribuir), dormiu como se estivesse em casa. Claro, também chorou, deu seu trabalho, mas se ela não fizesse isso, que é típico de sua idade, nós ficaríamos preocupados.
 A casa da vovó e do vovô é o melhor lugar do mundo. É tudo muito belo, tem tanta luz que a toda hora é momento para uma boa foto. Mas não é apenas isso, é uma beleza cheia de vida, natural, vida humana, passáros, irmãos, flores, primos, árvores, pais, macacos, tios, uns dos outros, todos assim, em exuberância.  Uma beleza desse tipo não oprime, pelo contrário, é confortável, aconchega o corpo e a mente.
 A vovó diz que o segredo do ambiente acolhedor começou desde a construção, o telhado, a alvenaria, os jardins, tudo criado e cuidado por pessoas que não sofreram para o fazer, mas quem sabe até puderam, além de lucrar, sonhar. Mas queremos saber mesmo qual o segredo que mantém tudo isso vivo e aceso.





sexta-feira, 22 de julho de 2011

Um lustro

Ainda que muitos digam que o casamento só começa quando chegam os filhos, hoje completamos cinco anos de casados! Momento oportuno para lembrar o quanto estamos felizes e reafirmar nosso compromisso, que hoje tem novas bases. O nascimento da Alice me faz sentir mais profundamente que construi uma família, que sou pai de família, detentor do tal poder familiar, que compartilho prazerosamente com minha esposa. 


 Alice, na noite de ontem resolveu esticar sua mamada e ficou um 42 minutos no peito, a arrancada permitiu nossa filhinha adentrar nesta madrugada dormindo por mais de sete horas seguidas, dando, assim, um intervalo de mais de oito horas entre uma mamada e outra. Acho que foi um presente pelo nosso casamento, valeu!
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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Cadê o papai?

* * * Achou! * * * 
 Como diz minha irmã, a ausência neste blogue é o sinal de que sou um bom pai, pois bebês dão muito trabalho. É verdade. Ainda bem que eu não escrevi antes, mas cheguei a pensar que era possível cuidar de um recém-nascido sozinho. Se uma  pessoa basta, um casal então vai se virar bem tranquilamente. Nada mais distante da realidade, sem o auxílio de familiares, amigos e profissionais, cuidar de um bebê é extramemente penoso. Minha esposa, que antes do parto desejava gêmeos, hoje não consegue nem pensar nisso. Bom, dá licença que vou trocar uma fralda...

sábado, 18 de junho de 2011

Presente para Alice

Alice completou uma semana, como presente, ganhou um brinquinho, que foi colocado enquanto mamava, pareceu-me que o prazer do peito é muito maior que uma possível dor, já que não houve  gritos nem berros, sequer uma paradinha na mamada. Quem está feliz com a novidade é a mamãe!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Nasceu o papai?

 Alice nasceu cheia de saúde e vitalidade, suga bem o peito, tem energia. Hoje, quarto dia de vida, enquanto a mamãe trocava sua roupa, fiquei brincando com ela, mostrando e movimentando minha mão. Para todos os lados que eu movi, Alice acompanhava, atenta, com seus olhos brilhantes. Fiquei encantado com essa interação, orgulhoso, convicto de que minha menina é mais esperta da mundo! Agora sim, esse sentimento me deixou tranquilo de que junto com a Alice nasceu um papai babão.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Nasceu Alice!

 Alice nasceu de cesariana 09/06/2011, 14h20, 3,195 kg, 49 cm, eu estou um pouco sonolento agora, com preguiça de escrever, prefiro viver. Mas não vou deixar de dar a notícia neste blog. Nossa filhinha é o bebê mais bonito do berçário, até mesmo as enfermeiras e auxiliares, que estão acostumadas com bebês, ficam encantadas com ela! Sinto-me abençoado! Ela tem saúde, alegria, paz, cabelo, unhas compridas, pele rosada, instinto de sucção, choro estridente, bocejos, espirros e infinitas outras coisas que estamos ansiosos para viver e descobrir. 

domingo, 5 de junho de 2011

Expulsar ou extrair?

 A espera por Alice está chegando ao fim. Uma ou duas semanas no máximo. Nossa filhinha está sentada, o que os médicos chamam de apresentação pélvica, ou seja, não está com a cabeça posicionada em direção à saída (para não escrever vag....), por isso, a recomendação médica é para o parto cesariano.
  Nossa preferência era pelo parto normal, considerando as propaladas vantagens, como recuperação mais rápida da mãe, facilidade para amamentar, maior participação da mãe no trabalho de parto, o que aumenta o vínculo afetivo mãe-filho, ou ainda que a passagem pelo canal vaginal é benéfico para a saúde do bebê.
 Há também aquela coisa simbólica de que na cesariana o bebê será arrancado do ventre materno, repentinamente, à força, quando ainda não tinha chegado a sua hora. Mas hoje vejo que isso é bobagem. A diferença entre parto normal (ou natural) e o parto cesariano (ou cirúrgico), é a diferença entre  expulsar e extrair. 
 Nada me convence de que o bebê quer sair e esse desejo dá início ao trabalho de parto normal. Não é isso. Ele é expulso, independentemente de sua vontade, pelas contrações uterinas, então, pouca diferença há para o caso em que é extraído, pelas mãos e instrumentos médicos. Pelo contrário, podemos até pensar que ser buscado pelo mundo é melhor que ser jogado nele.
 No entanto, não nos foi dado escolher, como se trata do primeiro parto e o bebê já está com 3,2 kg (isso pelo ultrassom da segunda-feira passada, hoje podemos estimar 3,4 kg., o que é orgulho para uma mamãe do interior) é muito arriscado o bebê sair de marcha a ré, pelo que a recomendação médica conclusiva é a cesariana.  
 Fico então pensando o que aconteceria se vivêssemos em tempos não muito passados, quando a única opção era o parto normal. Morreriam a mãe e o bebê? Barbaridade! Mas a resposta é que o bebê ia sair de bunda mesmo, quando ela já estivesse para fora, a parteira deveria puxar uma perna primeiro, depois a outra. Então vem o momento crítico, tirar a cabeça do bebê, sem quebrar o seu pescoço, o que seria fatal e muito mais fácil de acontecer, já que o queixo do bebê pode se prender, enroscar. Há uma manobra para evitar esse problema, mas graças à Deus não somos fundamentalistas, deixamos de lado nossa opção pelo parto normal e estamos preparados para a cesariana. 



quinta-feira, 2 de junho de 2011

Som, fúria e pediatria

 Eu não assumo que sou neurótico, pois ainda estou seguro de que não sou. Mas vejam só, quis ir ao pediatra antes mesmo de nossa filha nascer. 
 É que, para a relação médico-paciente funcionar bem, penso que é preciso nos conhecermos desde já, único caminho para encontrarmos a afinidade e construirmos a confiança. Também exigências de ordem prática, como as agendas lotadas, convênios médicos, disponibilidade de atendimento por telefone, aconselham a visita ao pediatra antes mesmo do nascimento. É melhor já resolver agora, com calma, do que depois, quando o bebê chegar. A visita ao pediatra foi um bom retrato do mundo em que vamos entrar, já começa na sala de espera.
 Nossa pediatra nos pareceu muito bacana e atenciosa. Como fala! Alto e rápido. Logo comprometeu-se a ir receber nossa filha na maternidade, assim que ela nasça, para os primeiros exames. 
 Contou-nos que, certa vez, estava no supermercado, já com o carrinho cheio, quando foi chamada para receber um cliente que estava chegando ao mundo. De pronto, largou o carrinho, foi ao hospital, examinou o bebê recém-nascido, que estava tudo bem, voltou ao supermercado, para sua felicidade, o carrinho com as compras ainda estava lá! Ficou mais feliz com isso do que com o próprio nascimento! 
 Com uma boa dose de poesia e verdade, alertou-nos que é importante deixar o bebê nos ensinar a sermos pais. Avisou-nos que é normal os pais terem essa ânsia de fazer tudo certinho, perfeito, mas que isso absolutamente não é necessário, podemos ficar tranquilos, por exemplo, ao dar banho, pode dar umas duas ou três afogadinhas no bebê, que não tem problema, tá liberado. A vida não exige a perfeição.
  Som e fúria, as palavras que Shakespeare escolheu para explicar a vida, é a primeira coisa que posso ver e intuir do novo mundo em que vamos mergulhar. Os bebês são exuberantes signos da vida.
  Vimos um documentário na televisão em que o casal contava sua experiência na primeira noite do bebê em casa. Colocaram-no para dormir junto com eles, na cama de casal, no famoso meinho. Acontece que no meio da noite a fralda vazou, eles demoraram a perceber, quando acordaram tinha merda em tudo quanto é lugar! Mesmo assim, eles estavam felizes, radiantes. 
 Recordei-me da frase que escrevíamos na agenda escolar, "jovem é como papel higiênico, se não tá no rolo, tá na merda". Se na adolescência eu dizia que a vida é uma merda, na paternidade eu percebo que merda é vida! Tá cagando é porque tá vivo, tá bem e isso tudo é muito divino.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Despedida de solteiro

  
 Fim de semana retrasado nos retiramos ao Teto do Cafundó. Como o nome diz, um lugar alto e longe. Na verdade, não é tão longe assim, mas o suficiente para nos sentirmos distantes da cidade e suas poluições. 
 Já tinha o lugar em mente, São Francisco Xavier, na Serra da  Mantiqueira, então foi mais fácil procurar a pousada pela internet, logo achei um site bonito, com fotos maravilhosas, tudo perfeito, a não ser meu jeito sempre desconfiado: será que a realidade corresponde ao bem-estar que as imagens transmitem? 
 Como meu pai sempre diz, quem não arrisca, não petisca, então parei de pensar no que poderia dar errado e liguei para fazer a reserva. Lotado! Que azar, mas mantive a esperança, deixei meu celular e um pedido para retornar se houvesse desistência. Que sorte! Conseguimos um chalé.
 Ainda que fosse apenas 19h., chegamos lá com a noite densa, apreensivos após percorrer uma rodovia sinuosa, um trecho íngreme de estrada de terra, um frio de arrepiar. Na verdade, isso só contribui para o charme do local, pois não tivemos dificuldades em chegar à pousada e, estacionado o carro, já fomos prontamente atendidos.  
  Ficamos muito à vontade. Estar na pousada é melhor do que ver o seu site. O chalé tem o cheiro certo! É tanta madeira, que manter o odor agradável não deve ser fácil. Não dei um espirro sequer. Tudo muito limpo, muito certo, muito completo, muito bem pensado. Acreditem, não só a cama, mas também o ofurô, tem vista para a admirável paisagem. Para a noite, as velas já estão arrumadas e um acendedor estrategicamente localizado. É só acender e ser feliz.
 Os objetos que ornam o chalé - e toda a pousada - não são apenas belos, são também interessantes, peculiares, combinam entre si de uma maneira especial. Tive a sensação de que nada ali foi comprado para montar uma pousada, tudo foi comprado para eles mesmos, os proprietários (talvez fosse melhor chamá-los de idealizadores) da pousada, que abrem sua casa para receber pessoas amigas.
 Quando fui informado de que o local tem uma dvdteca, nem me interessei, pois já imagino que vou encontrar apenas os grandes sucessos de bilheteria, americanos. Dessa vez, para minha surpresa, não foi assim, pelo contrário, tive o prazer de reencontrar alguns títulos e reviver boas lembranças, de filmes que já assistimos juntos: Cinema, Aspirinas e Urubus, O banheiro do papa, A culpa é de Fidel, Volver...  Escolhemos ver "Leonera", para nossa surpresa, retrata a vida de uma mulher grávida na prisão, onde dá a luz e cria seu filho. Aparentemente, é a antítese do luxo que estávamos vivendo. Filmão.
 O café da manhã foi surpreendente, não havia aquela mesa enorme para você se servir, você era servido! Escolhi apenas que suco queria tomar (as opções eram interessantes) e, não sei como, já descobriram que eu não gosto de bacon, ovos, salsicha. Gosto de começar o dia comendo frutas, que nessa ocasião, vieram preciosamente cortadas e apresentadas no prato. Depois, nos trouxeram um crepe com queijo quente, preparado na hora, por fim, pães quentinhos, manteiga, requeijão, geléia, frios. Tudo com a maior qualidade. Poucas quantidades, muita diversidade. Comemos de tudo um pouco e ficamos satisfeitos, plenos de corpo e alma, sem necessidade de nos sentir pesados. 
 Essa minha descrição já se estende e isso me entristece. Lembro-me dos livros de Eça de Queiroz que fui obrigado a ler na adolescência, desde então, tenho uma aversão por longos textos descritivos. Deixe-me então dizer algo que talvez explique e substitua todas as descrições. É impossível compor um ambiente tão agradável apenas com dinheiro e objetos. É preciso amor, vida, pessoas.
 O Renato e Tatiana, que são os idealizadores e mantenedores da pousada, receberam-nos pessoalmente, com tal satisfação e alegria, que tive a impressão de estar reencontrando velhos amigos em sua casa. Há algo de especial, uma espontaneidade, que é muito diferente de ser recebido por um profissional da hotelaria, treinado em cursos, que por melhor que sejam, tem algo de artificial. 
 Eles já viajaram o Brasil e o mundo, a todo momento, tinham algo interessante ou divertido para nos dizer. Seja um acontecimento, um filme, uma notícia, um livro, um novo signo do zodíaco, um objeto, uma pessoa. Nenhum alimento nos foi servido sem uma contextualização, que agregava mais sabor e sentido. São mestres na arte de bem receber.   
 Esse fim de semana, tive a felicidade de saber exatamente o que eu queria (afastando a dúvida e a confusão que assombra àqueles que consideram as múltiplas possibilidades) e alcançar esse desejo, ainda sobrando espaço para me surpreender positivamente. 
 Vivemos o que me pareceu, na falta de um nome melhor, uma "despedida de  solteiro". A pousada não é adequada para crianças, não poderemos voltar lá tão cedo. Depois de quase cinco anos de casado, os passeios românticos, os jantares a dois, certamente vão acabar. Que venham os hotéis-fazenda!
 site da pousada (não ganho comissão): http://www.tetodocafundo.com.br/

sexta-feira, 13 de maio de 2011

contrações e discontrações

Até pensei em comentar via facebook no domingo, mas passou sem que a ideia se concretizasse, certamente atropelada por outras ideias e afazeres, mas como hoje é sexta-feira e ainda me lembro com alegria do filme, sinto que isso é um sinal, quase uma prova, de boa qualidade, então resolvi escrever esta nota. Domingo de tarde, assisti com minha esposa a um filme francês em dvd, não tem a profundidade, a densidade, a complexidade que se espera de um filme francês, era uma comédia e não sou muito chegado em comédias estrangeiras, das americanas não gosto de nenhuma, sendo a única exceção o seriado Friends, que acho genial, com a observação de que precisei assistir aos primeiros episódios para pegar o espírito da série e assim fui assistindo, na sequência, com a comodidade que o dvd proporciona. Na verdade, para o domingo, gostaríamos de alugar “minhas mães meu pai”, mas como não havia disponível, alugamos essa comédia francesa mesmo, esperando um filme leve e divertido, para entreter e foi exatamente isso que encontramos. No início, fiquei meio decepcionado, pois achei que seria uma típica comédia do cara que só faz burradas e só se dá mal do começo ao fim, mas o filme não é sobre isso, é muito melhor. O protagonista é gerente dos correios e mora no sul, queria ser transferido para a riviera e morar à beira do mar, mas é transferido para o extremo oposto, numa cidadezinha no norte da França, então começa uma brincadeira com os estereótipos entre o sul e norte, que até então eu desconhecia. Segundo o filme, o sul é o lugar quente, iluminado e abençoado, com muita arte, cultura e boa culinária, já o norte é um lugar escuro, frio e chuvoso, em que todos trabalham em minas de carvão, as pessoas mal sabem falar e vivem isoladas do mundo, embriagadas para não encarar a sua dura realidade. É divertido ver os próprios franceses ridicularizando o seu queijo fedido, ironizando suas diversidades de pronúncias. O filme ainda fala de preconceitos e sua superação, de bairrismos, de "caipirice", da amizade, do amor, da vizinhança, das mães, da bebedeira, da mentira, da verdade... Biloute, fica aqui a dica, o filme se chama “a riviera não é aqui”, é um filme água com açúcar, gostosinho, ótimo para distrair e passar o tempo. 


 O que isso tem a ver com o tema deste blogue? Tudo. Grávidos precisam relaxar o corpo e a mente. Com a minha esposa está tudo muito bem. Eu é que fico discretamente nervoso, silenciosamente ansioso, vendo o barrigão imenso, imaginando o que me espera, a expectativa que se alonga, sem nada para fazer a não ser aguardar a vida desenrolar seu fio. Por isso, escrever sobre cinema, que é uma das minhas grandes paixões, é boa distração e mais fácil, acho que até mais útil, que pensar em gravidez, parto, bebê, contrações de braxton-hicks... Ah, por isso também, vamos passar o fim de semana no alto da montanha, relaxante, esperando boa culinária, bom descanso, boas fotos e um friozinho acolhedor.

domingo, 8 de maio de 2011

Dia das Mães

Foto por: Maura/Acervo Particular
 Hoje é domingo, dia costumeiramente familiar, este ainda mais, pois é o domingo do dia das mães. Não vou passá-lo com minha mãe, como certamente já aconteceu outras vezes, sequer comprei um presente especialmente para a data.

 Para nascer um pai, é necessário que antes nasça o homem. Para nascer o homem, é preciso que ele se liberte de sua mãe.


 É assunto de psicoterapia, então, desde já aviso, por mais que eu esteja falando de minha mãe, em verdade estou sempre falando é de mim mesmo. Minha posição de observador nesse assunto não é privilegiada, pelo contrário, é muito suspeita.

 O xis da equação é compreender o significado do verbo libertar, já que teus pais podem estar fisicamente mortos e você ainda não se libertou deles, bem como é possível morar na casa de seus pais sem estar preso a eles. Acho que a primeira vez que vi isso foi na TV Cultura, "Confissões de adolescente", bom tempo atrás.

 Para mim, num passado recente, essa libertação significou sonegar meus sentimentos mais particulares, cultivando uma distância que, evidentemente, incomodou minha mãe. Ela jamais mereceu qualquer tipo de desatenção, pelo contrário, faz jus aos elogios tão repetidos nesta data, que nunca deixei de expressar, ainda que algumas vezes tímido, falando com o som mudo do coração, que ela sempre soube ouvir. 

 O que a incomovada profundamente é que, se ela não sabia como eu estou, o que estava acontecendo comigo, como poderia me ajudar? 

 Não pensem vocês que deixei de ligar e dizer que estava tudo bem! Um tudobem assim qualquer um diz, ela queria ouvir, sentir e se certificar de que estava tudo realmente bem, em um nível que eu acredito que as coisas nunca vão estar. Assim fui estabelecendo um distanciamento saudável, para que pudesse seguir o meu próprio caminho.  
 Mas não é tão fácil assim classificá-la como uma típica mãe italiana superprotetora. Ela nunca me pareceu uma pessoa simples, provavelmente ouviu de seu pai a frase que hoje transmite para seus filhos: não complique a vida!

 Se tem o apego e o cuidado de uma mãe italiana, também tem a praticidade americana, a sofisticação francesa, o lirismo português, a autoridade alemã, a alegria brasileira, enfim, uma mistura complexa que forma uma pessoa completa.


 Quando digo que minha mãe é professora, muitos pensam que ela é professora de português, mas na verdade sua disciplina é matemática. Lembro-me até hoje da caixa de madeira em que ela guardava o material utilizado para ministrar as aulas. Era divertido, cheio de caixinhas e pecinhas, que se combinavam, umas dentro das outras, a casa das dezenas, centenas e milhares, o cubo, a aresta, o vértice. Tudo era tão lógico que não imaginava como poderia ser de outra forma. Nem sei bem porque fui me bacharelar em direito, já que era nas disciplinas de exatas em que sempre tive mais facilidade e maiores notas.

 Mas ela não se restringiu a matemática, aprofundou seus estudos, fez pedagogia e chegou ao cargo de diretora de escola. Nunca quis ser supervisora, nem delegada de ensino. Embora pudesse, dizia que era muito trabalho, muita responsabilidade, sem contrapartida financeira. Cresci ouvindo minha mãe esbravejar em alto som contra a falta de caráter dos políticos, ainda que eu não entendesse nada dessas coisas, era em casa, capítulo por capítulo, com direito a palavrões, que eu, um pouco assustado, ficava sabendo que estavam ACABANDO com a educação no Brasil.

 Com razão, imagine como foi doído ouvir o governador de São Paulo declarar na imprensa, durante uma greve, que "as professoras não ganham mal, elas são é mal casadas". 
 Assim aprendi não só os postulados matemáticos, mas que o mal do Brasil era a desonestidade dos políticos.  Provavelmente essa indignação de minha mãe é a origem de minha total intolerância com a corrupção.

 Acho que foi nesses estudos de sua carreira, por algum livro de pedagogia ou psicologia, que ela e meu pai se convenceram de que o melhor para os filhos era eles seguirem um caminho próprio, serem independentes. Não sei se o livro lhes indicava o custo emocional que isso lhes traria, mas sei que não hesitaram em fazê-lo, ainda que sentissem doer na própria carne.

 Como arcos, se curvaram, se esticaram, para lançar seus filhos, como flechas, para o alto, para frente.   Quem vê a flecha voando na imensidão do céu azul, pode admirar sua beleza e sentir o ar da liberdade, mas normalmente se esquecem dos arqueiros que as lançaram*.

 Apenas muito recentemente comecei a pensar que minha liberdade, minha independência, foi o último presente que ganhei de meus pais. A chave de ouro com que encerraram minha formação. Passei a olhar para trás e achar que eu sou apenas um projeto bem sucedido deles, que não fiz muito mais do que já estava planejado.

 É verdade que as margens que me direcionavam eram amplas. Também é claro que muitas vezes desviei da rota, pude ser feliz e me frustrar andando fora da trilha, mas não são essas variações que me definem. Já não sei bem ao certo se fui eu quem saiu de casa ou se foi a casa que saiu de mim. Minha emancipação se deu à moda luso-brasileira, não anglo-americana.

 Assim tenho um sentimento bem contraditório. Ao mesmo tempo que me sinto livre e independente, sinto que estou apenas cumprindo o roteiro determinado. E não é exatamente essa tensão entre destino e livre arbítrio que faz o enigma da vida humana? E não é exatamente a vida que meus pais me deram? Buscar em nossos pais a origem da vida é interessante, mas também tem seus mistérios.

 Desta vez, não é por minha conta que não vamos almoçar juntos no dia das mães. Ela está em Paris, a sós com o meu pai, num passeio que planejaram há mais de trinta anos. Estão aproveitando. 


 Como filho que sou, penso que meu presente também é deixá-los livres e tranquilos. Certos de que fui um bom menino e sou um bom homem, honesto e capaz de conduzir a vida, material e espiritual, por seus próprios meios.

 Obrigado, boa viagem e feliz dia das mães!

a metáfora do arco e flecha é de autoria de Gibran Khalil Gibran