sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um dia de pai



Se você me ligasse para conversar, provavelmente ouviria um trecho da história cuja versão completa conto aqui. 7 de setembro, feriado nacional, caiu numa quarta-feira, não é um feriadão, mais parece um dia de trabalho em que não trabalhamos. Para aproveitarmos, começamos ontem, seguindo a ousada sugestão da mamãe, locamos um filme para assistir em casa, depois das 20h, horário em que geralmente dormimos, para nós, dormir 22h30 é o equivalente a madrugar, mas estamos dispostos a essa aventura. Tudo funcionou como planejado, mamada para Alice 19h30, pouco depois ela já estava dormindo. Então vimos, sem interrupções, “Biutiful”, que foi uma escolha minha. Já imaginava que seria um filme pesado, mas para quem viu “Leonera” na gravidez, sem traumas, considerei que não teríamos problemas, como realmente não tivémos, apenas ficamos comovidos e tristes. Em verdade, esperava encontrar no filme um pouco mais da beleza, ainda que em meio das misérias humanas, que a transformam na tal “belesa”, que lhe serve de título. Até há beleza no filme, mas ela só serviu para nos transmitir mais tristeza e a amargura, que ao final, só nos restou dormir, então fomos direto para a cama, já que qualquer vinte minutos é tempo precioso quando se tem um bebê em casa. Mamãe adormeceu rapidamente, mas eu não parava de pensar e pensar, não no filme, mas em questões profissionais que me deixaram ansioso e me tiraram da cama. Fui para a internet e só me desliguei dela 1h30 da manhã, ainda esperto, pois o computador, muito diferentemente de livros, não me encaminha para o sono. Então bastou ler dez minutos da Teoria Pura do Direito e pronto, finalmente passei para o lado de lá da vigília. Alice, conforme sua rotina, só acordou 4h40, para mamar, eu levanto também, sem o menor mau humor, para acalentar minha filha, enquanto a mamãe toma água e pega a almofada, então coloco o bebê no peito dela, anoto o horário da mamada no caderno, deixo um relógio para mamãe acompanhar o tempo, verifico se ela tem um paninho babadouro por perto, preparo a manta que irá embalar nossa filha novamente, pergunto se a mamãe quer mais um copo de água ou outra coisa. Tudo isso não dura mais que dois minutos e volto a dormir, surpreso comigo mesmo, por conseguir acordar bem humorado, mesmo estando com o sono atrasado. Na primeira semana, acordar para essas tarefas me deixava atônito e mal-humorado, hoje, pelo contrário, penso até que terei saudades. Aliás, é pelo receio dessas possíveis saudades, ou, pior ainda, pelo receio de esquecer disso tudo, que vou deixando esses escritos por aqui. Alice, também seguindo seu costume, acordou 7h30, a mamãe foi vê-la e, dessa vez, extraordinariamente, muito fora do costume, o bebê vomitou uma grande quantidade de queijinho, o que assustou a mamãe, foram dois volumosos jatos. Tive que rapidamente levantar, pegar o bebê todo melecado e acalmar a mamãe, para que ela não passasse seu susto para o bebê, que estava melecado, mas estava tranquilo. Novamente, fiquei surpreso comigo, pois apesar de não ter ido dormir 20h, como de costume, estava com disposição para começar o dia e a nossa rotina que agora conto para vocês. Tirando algumas variações, como hoje, que tivemos que trocar os lençóis e o protetor do berço, a Alice acorda por volta das 7h, mama, o que a deixa relaxada, então descemos eu e mamãe para o nosso café da manhã, enquanto o bebê fica na sua cadeira de balanço, ela dá uma choradinha vez em quando, cada dia menos. Findo o café, damos o banho, o que é feito no quarto. Cabe a mim encher a banheira com água quente do chuveiro e carregá-la até o quarto. Não temos termômetro, às vezes, precisamos acertar a temperatura com uma panela de água fria. Penso que essas variações da temperatura da água preparam nossa filha para as surpresas do mundo. Penso que sou muito bobo ou exagerado por ter esses pensamentos. A mamãe é quem dá o banho, eu pego a Alice saindo da banheira com a toalha, enxugo, passo pomada, coloco a fralda e a roupa que a mamãe escolheu. Só então eu vou tomar banho e saio para trabalhar, às vezes, para acelerar, já tomo banho antes do café, enquanto a Alice está na primeira mamada do dia. No começo, mamãe também tomava banho de manhã, mas agora, para agilizar, está tomando banho de noite. Está tudo orquestrado, com espaços para improvisos. Depois do banho, Alice dá outra mamada, fica brincando por volta de 40 minutos e dorme bastante, umas duas horas, tranquilas, tem dia que dorme até mais que isso. Temos bastante segurança nesse sono da manhã. Por vezes, como neste feriado, passo a manhã com a Alice, para que a mamãe possa sair de casa, espairecer, o que faz indo ao supermercado. Como hoje é feriado, não tem empregada para fazer almoço em casa, nos viramos com uma industrial lasanha congelada e alface que já estava lavada na geladeira. Alice ficou bem durante o nosso almoço, em sua cadeirinha, mas não é sempre assim, por vezes, quer colo, quer passear, chorar um pouco. Quando ela fica muito inquieta e insatisfeita, penso que a vida pode ser mesmo entediante, principalmente quando não conseguimos nos distrair por nossos próprios meios. Lembro que precisamos cultivar a independência dessa menina e isso não parece muito fácil. Para a tarde, planejamos um passeio no parque. Gostamos de sair logo após a mamada, para aproveitar melhor os intervalos entre as mamadas, mas dessa vez foi preciso trocar a fralda, com cuidado, pois a barriga cheia proporciona vômitos. Já imaginou alguém levantando suas pernas, comprimindo e erguendo o seu abdômen? Vomitar era o que um adulto faria de mais delicado. 
No carro, eu aperto o cinto de segurança cinco pontos da Alice, pois a mamãe tem um pouco de dó, acha que é incômodo, muito justo, aliás, ela gosta de tudo bem largo para o bebê, diz que é mais confortável, dessa vez, mamãe vai dirigindo, pois quer se acostumar com essa tarefa, o que foi bom para mim, que recebi o telefonema de um amigo de faculdade, que também é papai, conversamos sobre trabalho e filhos, gosto muito de ouvir meus amigos. Chegando no parque, uma pequena dificuldade para estacionar o carro, minha esposa ficou por lá e eu fui procurar uma vaga para estacionar, nem demorou muito, voltei para o parque e tive uma antiga fobia, que me acompanha desde a infância. O parque é grande, estava cheio de gente e crianças, passo o olho ao redor, não encontro minha esposa e filha, fico pensando e sentindo que estou perdido, que elas se perderam, que não vou encontrá-las mais, bate um pequeno desespero que dura poucos minutos, pois já aprendi a não deixá-lo crescer. Calmo, encontro com alegria o carrinho verde kiwi da Alice e a mamãe atenciosa, um beijinho e vamos passear entre as árvores e flores, muitas crianças correndo, brinquedos de diversos tipos, roda de crianças ouvindo dois palhaços, aviões de exibição, paramos para algumas fotos. É tudo muito gostoso, Alice nos faz resgatar alguns encantos da infância, mas penso que vou enjoar disso algum dia, torço para que esse dia demore a chegar. Por enquanto, Alice cansa do passeio antes de nós, começa a resmungar, só sossega no colo, vamos até o carro, Alice mama novamente e dorme logo em seguida, então passamos na locadora para devolver o filme e na padaria, para comprar um café que acabou se tornando nossa janta, mesmo. Um sujeito chato e folgado quer dinheiro para olhar o carro, mesmo num dia pacato como este, acontece que eu fiquei no carro vigiando a Alice, enquanto mamãe comprou “jamón”, o que nos recorda o prazer das viagens mundo afora. Já em casa, um dia feliz como este, ainda tive tempo para escrever este texto, mas sem muito tempo para reler. Já é quase 19h30, vamos trocar a fralda, dar mamá com luz apagada, colocá-la sentadinha para arrotar, envolvê-la em sua manta, aconchegá-la no colo e descansá-la no berço dormindo com seu rosto angelical. Pronto! 20h30, vou dormir rapidamente que amanhã, já pela madrugada, tem mais.  

Um comentário:

  1. MArcelo
    Enquanto lia, fiquei imaginando cada cena descrita, com tantos detalhes.
    Como vc mesmo disse, nada como registrar momentos, afinal nossa memória insiste em nos dar rasteiras...
    Bjs

    ResponderExcluir