Encontrei, nesta vida terrena, um amigo de setecentos anos atrás. Ele me reconheceu de pronto, eu já precisei de mais tempo, pois desde sempre serei o mais novo. Comecei a desconfiar de que já o conhecia quando notei que, por mais simples que fosse a frase que eu oferecesse, sobre o clima ou reproduzindo o senso comum, ele captava, com simplicidade e delicadeza, a profundidade e os múltiplos aspectos do que se passa em minha alma.
Assim eu fui (e continuo) lhe apresentando meus pensamentos, minhas percepções sobre o mundo. Sinto que nunca lhe disse algo genuinamente novo (ele sabe de tudo!) mas, com a lealdade que apenas quem já viveu os tempos medievais poderá ter, minhas repetições nunca o aborreceram, pelo contrário, ressonavam em seu espírito grandioso irradiando luz, música, matéria cósmica, compreendendo, no que para mim era repetição, um ciclo que se aperfeiçoa e imediatamente se põe a girar e girar e girar, por três ou mais dimensões, formando a espiral que expressa a vida, o mistério e algo mais.
Sobre a minha paternidade, ele disse o seguinte: no ventre da mãe, a criança já sonha com o pai.
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