sábado, 29 de janeiro de 2011

Por detrás das roupas

 Dizem que os homens são mais corporais, mais visuais, assim, para imaginar seus filhos, precisam de algum elemento concreto, real, que possa tocá-lo fisicamente para depois tocar emocionalmente. Assim as roupinhas de bebê funcionam como gatilho para despertar a capacidade de imaginação e não é difícil um pai se emocionar com um casaquinho nas mãos.

 Mas isso não acontece comigo. Quando passo em frente a uma loja de roupas infantis não consigo ver nada além de um comércio astuto, que se aproveita de uma situação frágil das pessoas (os pais babãos), para vender produtos caros e desnecessários (pelo menos na quantidade e variedade propalada).

 A estratégia de vendas é tão bem feita que foi criado um momento especial: a saída da maternidade! Ocasião corriqueira que foi alçada ao mesmo nível de batizado, aniversário, formatura, casamento. Que roupinha será usada para o beber sair na rua pela primeira vez e chegar à sua casa! Não me convence! Se alguém insinuar que eu sou um pai frio e distante, que não sabe curtir o momento, dou-lhe este blogue na cara.  Roupa cara não é garantia alguma de envolvimento e participação. 

 É claro que mulheres gostam mais dessa coisa de roupas e adereços e minha esposa se sai muito bem nisso. Então enfrento minha resistência pessoal, permito-me entrar na loja e tento participar do momento. Minha mulher, animada, passando os cabides, eu não olho para as roupinhas, olho para ela, vejo seu sorriso, seus olhos brilharem, penso no que ela está pensando e começo a sentir o que ela está sentindo, pelas mãos dela, posso até gostar de uma roupinha, mas no fundo estou mesmo é gostando dela, do nosso amor pelo nosso filho. 

 Dentro duma loja de roupas infantis me sinto como um analfabeto deve se sentir numa biblioteca. Envolto em artigos preciosos que sozinho não posso apreciar.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Casar ou ter filhos?

 Depois de um silêncio, um sorriso maroto, um olhar astuto, minha esposa me perguntou:  o que é mais difícil para você, casar ou ter filhos? Antes de pensar na resposta, fiquei pensando na pergunta, que era bem mais interessante. Minha esposa tem essa inestimável capacidade de me surpreender.

 Depois da profusão da adolescência, onde tudo é primeiro, como na Vila  Esperança de Adoniran Barbosa, parece-me que a vida pessoal do homem encontrará mais dois momentos de genuína descoberta e transformação: casar e ter filhos.

 Reza a tradição que o caminho deve seguir essa ordem, primeiro casar, depois ter filhos. A certidão de casamento funciona(va) como uma Carteira Nacional de Habilitação, uma licença atestando sua habilidade para pilotar seus filhos.

 Num passado recente, se uma criança nascesse sem prévio casamento dos pais, azar, nasceu em desgraça, era considerado um bastardo cujo destino só poderia ser salvo pelo casamento dos pais, ainda que posterior. Minha intuição diz que esse sistema foi útil em algum momento da história, mas é certo que hoje está totalmente falido.

 Porém uma coisa permanece: a seqüência dos módulos. Você até pode ir direto para o Módulo II - Ter filhos, mas automaticamente fica convalidado o Módulo I - Casar. Ou seja, se você cursa o Módulo II com o mínimo de aproveitamento, ganha o título do Módulo I, ainda que você  tenha sido sumariamente reprovado nas provas, tenha faltado em todas as aulas e se recuse a assinar seu diploma (que neste caso é um livro do cartório). 

 Essa aprovação automática é o motivo da grande surpresa do namorado que recebe a notícia da namorada: estou grávida! No susto, ele responde: mas eu não queria casar!  

 A mulher astuta, para tranquilizar o macho repentinamente despertado e amedrontado, certamente vai responder, mas ninguém falou em casar, e o macho, voltando a ser homem, vai compreender, mesmo que seja no esquema "me engana que eu gosto".
  
 Minha avó, relembrando sua mãe, transmite com muito bom humor uma idéia que por muitas gerações vem passando de mães para filhas e noras. Dizem elas que o homem é a cabeça do casal, mas a mulher é o pescoço, que vira a cabeça para onde quer. 

Não sei qual passagem é mais difícil para mim, o casamento ou a paternidade.  Pessoalmente, gosto das coisas assim, uma de cada vez, sem atropelos, está dando certo, o casamento vai bem e estou pronto para ser papai.



 http://www.youtube.com/watch?v=x0qKFtjb4PA

domingo, 16 de janeiro de 2011

Mais de quatro meses


 Já chegamos na metade da gravidez e preciso confessar algo constrangedor. Estou conversando com a barriga! Não a minha, graças à Deus, mas a de minha mulher, que é muito melhor.

 Acontece que eu acredito em livros e médicos, ambos dizem que nessa fase da gestação já é possível ao bebê ouvir sons. Então, é preciso coragem, encher o coração de esperança  e abstrair a barriga ou, se você for mais pragmático, basta lembrar do ultrassom, pois a ciência te dá a certeza de que o bebê está lá e pode interagir. Sem essa percepção, científica ou emocional, a cena é um tanto ridícula. 

 Não faço isso em público de jeito nenhum e também não afino a voz. Sempre achei patética aquela vozinha fina de falar com bebê, que me soava um tanto imbecilizada. Continuo pensando que não é preciso falar fino para ser um bom pai, pode falar normal, mas já sinto em mim as transformações da paternidade, agora mesmo, escrevendo, pensei em trocar o "imbecilizada" por "infantilizada". Talvez o ridículo seja falar grosso, pois é uma demonstração da incapacidade de conhecer a realidade do bebê e se adaptar a ela.

  Falar com a barriga, quero dizer, falar com o bebê é importante para ele já se acostumar com a voz do pai e não estranhá-lo após o nascimento. A voz da mãe ele já ouve a todo o momento e isso fortalece o vínculo com ela.

 Aliás, em matéria de vínculo com a mãe, a afeição com a voz é café pequeno, pois dizem que o bebê se sente uma parte da mãe, sendo uma de suas primeiras descobertas aprender que é um ser individual, distinto de sua mãe.

 Estamos longe de estabelecer uma competição entre pai e mãe pelo vínculo com o bebê, mas não deixamos de fazer comparações entre nós, saudáveis, porque servem de reflexão para nos conhecermos melhor nesse novo momento da vida.

 Assim descobrimos juntos que o pai pode fazer algo bem gostoso que a mãe não pode, que é encostar a cabeça no ventre onde está sendo gerado nosso filho, fechar os olhos,  ouvir os mesmos sons e sentir-se bem perto das pessoas que ama.

 A gravidez te faz abrir os olhos para coisas que você não estava vendo. Isso não é nada especial, passar de bicicleta pelo caminho que você sempre passa de carro tem o mesmo efeito. O que a gravidez tem de especial é te convidar a olhar para a vida.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Momento certo

 Foi na cozinha de minha vó que  minha tia soltou algumas palavras que me tocaram. Certamente ela não percebeu, pois minha postura contemplativa e silenciosa acaba por impor, mesmo contra minha vontade, um ar enigmático, respeitoso e intelectualizado, embora para quem nada conhece de mim esse mesmo ar enigmático não passa de uma cara de retardado e para quem pouco me conhece, já pareceu uma assustadora cara de psicopata. Forçar um sorriso é pior remendo, ficar quieto e contemplativo, bem assim, dentro de mim, é minha solução.

 Estava eu contando sobre meu passeio pela Europa, casa de vó, o fogão fumegando, família reunida, crianças por todos os lados, eu casado há mais de três anos,  espaço e condições inevitáveis para a pergunta corriqueira: quando vêm os filhos?

 Acontece que minha tia disse o oposto: aproveite mesmo, tudo, viajar, passear, até que um dia você vai sentir que tudo lhe parece um pouco repetitivo, um pouco vazio, então essa é a hora, o momento certo para ter filhos.

 Ela estava certa. É claro que nascem pais em situações muito diferentes da minha, são muito mais espontâneos (deveria dizer irresponsáveis?). Lembro de um amigo, infelizmente não encontro muito esse artista, que já tem dois filhos, cada um com uma mulher diferente.  

 Se você está se perguntando quais as vantagens de ter um filho, provavelmente já está pronto para ter um. Demoramos a perceber que o caminho racional nunca convencerá plenamente das vantagens de se ter um filho, é preciso acrescentar boas doses de vivência e emoção para nascer um pai.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Ingleses II

Transcrevo mais duas passagens, agora de conteúdo bem humorado, mas de estilo enrijecido. Talvez o balanço do humor tenha se perdido na tradução, mas não creio nisso, o estilo inglês é assim mesmo. Caso alguém precise, já forneço aqui duas novas palavras: colostro é o primeiro leite materno e mecônio é o que há no intestino do bebê ao nascer.


"Colostro ajuda na evacuação do mecônio e contém anticorpos que protegem você de infecções bacteriais. É rico, amarelado, e nos primeiros dois ou três dias sai junto com o leite. Eu imagino o colostro como espuma da cerveja clara." 


"Por que dizem que o óleo para bebês da Johnson & Johnson tem cheiro de bebê? Em testes e pesquisas, as pessoas sempre dizem que gostam do cheiro de bebê, de grama recém-cortada, pão fresquinho, rosas e gasolina. O universo de cheiros do nosso apartamento mudou. O cheiro é de leite. E cocô."


Samson, Ian. A verdade sobre os bebês de A a Z. Editora Barracuda.  p.72 e 85.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Ingleses

               
Estou lendo um livro, que mais parece um caderno de apontamentos, em que o escritor Ian Sansom revela suas percepções sobre os bebês, escritas justamente enquanto ele conhecia seu filho, entre fraldas e mamadeiras. 

 É exatamente o tema para o qual caminha este blogue, acontece que o sujeito é inglês, então se desnudam diferenças culturais interessantes. Estranhei bastante o livro, agora já captei o estilo, vejam uns excertos:

 "Mesmo nossos melhores amigos não se aproximam mais. Quando a gente convida, ficam por pouco tempo. O que é ao mesmo tempo bom e ruim. Uma necessidade e uma desculpa. Nós estamos cansados. Eles, horrorizados." (p.21)

 "Ninguém mais usa carrinho de bebê daqueles horizontais, fora os ricos e os pobres: os que herdaram. Todos os outros estão usando carrinhos nos quais o bebê vai sentado. A menos que os seus braços sejam muito curtos, você tem que se curvar para empurrar o carrinho. E se tiver pernas compridas, vai ter que se arrastar. O empurrador de carrinhos horizontais fica ereto e elegante, seus punhos escondidos." (A verdade sobre os bebês de A a Z. Editora Barracuda, p.64) 

PS: Tenho lido, em inglês, as formas "baby" e "babe", com o mesmo significado nos dicionários. O google revelou uma curiosa diferença entre babe car e baby car.  Acho que a primeira é mais americana... Qual você prefere? 

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