terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Momento certo

 Foi na cozinha de minha vó que  minha tia soltou algumas palavras que me tocaram. Certamente ela não percebeu, pois minha postura contemplativa e silenciosa acaba por impor, mesmo contra minha vontade, um ar enigmático, respeitoso e intelectualizado, embora para quem nada conhece de mim esse mesmo ar enigmático não passa de uma cara de retardado e para quem pouco me conhece, já pareceu uma assustadora cara de psicopata. Forçar um sorriso é pior remendo, ficar quieto e contemplativo, bem assim, dentro de mim, é minha solução.

 Estava eu contando sobre meu passeio pela Europa, casa de vó, o fogão fumegando, família reunida, crianças por todos os lados, eu casado há mais de três anos,  espaço e condições inevitáveis para a pergunta corriqueira: quando vêm os filhos?

 Acontece que minha tia disse o oposto: aproveite mesmo, tudo, viajar, passear, até que um dia você vai sentir que tudo lhe parece um pouco repetitivo, um pouco vazio, então essa é a hora, o momento certo para ter filhos.

 Ela estava certa. É claro que nascem pais em situações muito diferentes da minha, são muito mais espontâneos (deveria dizer irresponsáveis?). Lembro de um amigo, infelizmente não encontro muito esse artista, que já tem dois filhos, cada um com uma mulher diferente.  

 Se você está se perguntando quais as vantagens de ter um filho, provavelmente já está pronto para ter um. Demoramos a perceber que o caminho racional nunca convencerá plenamente das vantagens de se ter um filho, é preciso acrescentar boas doses de vivência e emoção para nascer um pai.

Nenhum comentário:

Postar um comentário