quinta-feira, 2 de junho de 2011

Som, fúria e pediatria

 Eu não assumo que sou neurótico, pois ainda estou seguro de que não sou. Mas vejam só, quis ir ao pediatra antes mesmo de nossa filha nascer. 
 É que, para a relação médico-paciente funcionar bem, penso que é preciso nos conhecermos desde já, único caminho para encontrarmos a afinidade e construirmos a confiança. Também exigências de ordem prática, como as agendas lotadas, convênios médicos, disponibilidade de atendimento por telefone, aconselham a visita ao pediatra antes mesmo do nascimento. É melhor já resolver agora, com calma, do que depois, quando o bebê chegar. A visita ao pediatra foi um bom retrato do mundo em que vamos entrar, já começa na sala de espera.
 Nossa pediatra nos pareceu muito bacana e atenciosa. Como fala! Alto e rápido. Logo comprometeu-se a ir receber nossa filha na maternidade, assim que ela nasça, para os primeiros exames. 
 Contou-nos que, certa vez, estava no supermercado, já com o carrinho cheio, quando foi chamada para receber um cliente que estava chegando ao mundo. De pronto, largou o carrinho, foi ao hospital, examinou o bebê recém-nascido, que estava tudo bem, voltou ao supermercado, para sua felicidade, o carrinho com as compras ainda estava lá! Ficou mais feliz com isso do que com o próprio nascimento! 
 Com uma boa dose de poesia e verdade, alertou-nos que é importante deixar o bebê nos ensinar a sermos pais. Avisou-nos que é normal os pais terem essa ânsia de fazer tudo certinho, perfeito, mas que isso absolutamente não é necessário, podemos ficar tranquilos, por exemplo, ao dar banho, pode dar umas duas ou três afogadinhas no bebê, que não tem problema, tá liberado. A vida não exige a perfeição.
  Som e fúria, as palavras que Shakespeare escolheu para explicar a vida, é a primeira coisa que posso ver e intuir do novo mundo em que vamos mergulhar. Os bebês são exuberantes signos da vida.
  Vimos um documentário na televisão em que o casal contava sua experiência na primeira noite do bebê em casa. Colocaram-no para dormir junto com eles, na cama de casal, no famoso meinho. Acontece que no meio da noite a fralda vazou, eles demoraram a perceber, quando acordaram tinha merda em tudo quanto é lugar! Mesmo assim, eles estavam felizes, radiantes. 
 Recordei-me da frase que escrevíamos na agenda escolar, "jovem é como papel higiênico, se não tá no rolo, tá na merda". Se na adolescência eu dizia que a vida é uma merda, na paternidade eu percebo que merda é vida! Tá cagando é porque tá vivo, tá bem e isso tudo é muito divino.

Um comentário:

  1. Adorei sua conclusão. E que venha a Alice, por parto normal ao 'anormal', afinal, quem mandou entrar? Agora tem que sair... Kkkkk.
    Bjs a vcs 3.

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