sábado, 20 de novembro de 2010

Simples assim

Nunca sabemos onde vamos encontrar um amigo, como já disse o poeta, amigos nós não fazemos, nós os reconhecemos. Contei sobre minha paternidade a um colega com quem já tinha afinidade pelo trabalho e ele, por e-mail que segue abaixo, compartilhou comigo um momento cotidiano. A história... não vou dizer que é uma história linda e que me emocionei profundamente, mas que isso é verdade, ah!, isso é. Não espero que meus amigos solteiros (ou sem filhos) gostem ou se emocionem, pois até poucos meses atrás eu leria uma história dessas tão rapidamente que não teria tempo para sentimento algum.

Aí vai, simples assim, como navalha na carne.
 

"Marcelo,

Já acessei o seu blog. Pensei que fosse sobre o direito, mas na verdade era sobre algo mais importante... a paternidade. Pelo que vi, você está curtindo cada momento. Isso é um ótimo sinal. Parabéns! Apenas para compartilhar...


Depois da reunião, busquei o meu carro da revisão. Brinde: lanterna ou sacola ecológica? Pensei nas crianças. Lanterna, óbvio. É incrível como uma lanterna de cinco reais pode fazer enorme sucesso com crianças de 2 a 6 anos.
Cheguei no meu prédio. Encontrei o Pedro (nove anos) e o Gabriel (quatro anos), no elevador, chegando da escola. Imediatamente, a lanterna foi disputada e retirada da minha mão. Pensei: escolha certa!

Depois disso, jantei com o Pedro. O Gabriel esperou para jantar com o Artur (sete anos), que chegaria mais tarde da escola, pois era dia de esportes no pós aula.

Após ler introdução, agradecimentos e primeiras páginas do seu livro (e descobrir que tivemos um membro em comum na nossa banca de mestrado), fui interrompido para encher duas bolas de futebol. Depois disso... a Ju (única mulher do lar e representante da minoria esmagadora), chegou.

Tensão: ajudar o Pedro a definir qual amigo seria indicado para cair na mesma classe no próximo ano letivo. A escola permite apenas uma indicação, mas exige que haja reciprocidade entre os indicados. A tarefa é cruel. Se você demorar, seus melhores amigos já terão fechado acordos entre si e o sentimento de exclusão – a meu ver – é inevitável. Além disso, você se vê obrigado a expor aos demais colegas qual é o seu preferido e, talvez, ter a desagradável sensação de ver que a recíproca não é verdadeira, ou que até seria, mas alguém já chegou antes e ele já combinou com o fulano. A criança introvertida poderá se sentir excluída, a comunicativa e com muitos amigos, extremamente dividida. Não há decisão sem dor. Assim,  depois de certo nervosismo, algumas lágrimas, “não vou indicar ninguém” ou  “deixa qualquer um” ele definiu o nome. 

Passada a turbulência e para descontrair, jogamos (os cinco) um jogo de tabuleiro (lince), no nosso esforço recente de resgatar estes hábitos. Pedro foi fazer lição e aí, algumas consultas, população de São Paulo, fundação, Vila de Piratininga, vereadores, nomes etc. Isso que é reciclagem de aprendizado. Gabriel pegou um livro (“Não faça isso Dragão) e li para ele. Dessa vez, o que é raro, ele não falou “de novo” no final, mas gostou mesmo assim. Ato contínuo, apareceu com uma folha de sulfite (rascunho) e pediu: Papai faz um avião? Mas aquele turbo, ok? Um, dois aviões e aí, surgiu o Artur, após ter pintado uma folha com azul e vermelho, disse. Papai faz um pra mim, mas com esse lado pintado para fora, ok? Bem, mais um avião da linha de produção Papai-Embraer e missão cumprida (após alguns voos). Outra folha e o Gabriel pediu. Papai, agora escreve o nome dos meus amigos?  Lorenzo, Julia, Neto, etc. Eu escrevia e ele adivinhava.  Ele ainda não sabe ler, mas já identifica o nome dos coleguinhas, por isso, a cada acerto uma comemoração.

Pipoca, alguém teve a idéia. Ajudei o Artur a abrir o pacotinho e colocar o envelope no microondas. Essa foi fácil. Ficaram assistindo o CQC da Band, que estava gravado no HD da TV (nem só de intelectualidade é feita a casa de juristas!). Quase onze horas ... Pedro e Artur, o primeiro corintiano e o segundo palmeirense, viram um pouco do jogo do Palmeiras, mas depois foram dormir. Pijamas (e fralda, ainda para o de 4 anos) e prontos para o descanso.
 

Não deu para retornar para o seu livro, mas nada como um dia após o outro. Sem dúvidas um dia especial, tarde com os amigos (sem trabalho rotineiro) e em casa, mais cedo e mais descansado, para desfrutar da esposa e FILHOS.
 

Que bom que você comprou os seus tíquetes para embarcar nesse voo. Que dá trabalho, mas é puro prazer. Fica então a frase, que não é minha, mas está afixada na porta da nossa geladeira:
 

“A decisão de ter um filho é muito séria. É decidir ter, para sempre, o coração fora do corpo” (Eric Stone).
 
Acho que você já está percebendo isso, não?
Bem, me delonguei um pouco.
Mas, foi só para compartilhar....
Abração”

2 comentários:

  1. Amei, Marcelão!!! Aproveitei - e como! - que estou com uma "virose" (o nome que os médicos costumam dar para um conjunto de sintomas que não se encaixam especificamente em nenhuma doença) e fiquei em casa vendo filmes e lendo. Li o blogue todo. Adorei. E me emocionei com essa mensagem, mesmo ainda não sendo - nem tendo a prespectiva de ser - pai. Um beijo grande, com desejos de muita felicidade para a família!

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  2. Que legal! Você é minha 9ª seguidora. Fiquei muito feliz com seus comentários. Sei que você é boa escritora também. Valeu! Beijos,

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